ATA DA TRIGÉSIMA PRIMEIRA SESSÃO ORDINÁRIA DA PRIMEIRA SESSÃO LEGISLATIVA ORDINÁRIA DA DÉCIMA LEGISLATURA, EM 02.05.1989.
Aos dois dias do mês de maio
do ano de mil novecentos e oitenta e nove reuniu-se, na Sala de Sessões do
Palácio Aloísio Filho, a Câmara Municipal de Porto Alegre, em sua Trigésima
Primeira Sessão Ordinária da Primeira Sessão Legislativa Ordinária da Décima
Legislatura. Às quatorze horas e quinze minutos, constatada a existência de
“quorum”, o Sr. Presidente declarou abertos os trabalhos e determinou que
fossem distribuídas em avulsos cópias das Atas da Trigésima Sessão Ordinária e
da Nona Sessão Solene, que foram aprovadas. À MESA foram encaminhados: pelo
Ver. Cyro Martini, 01 Pedido de Providências; pelo Ver. Dilamar Machado, 02
Pedidos de Providências; pelo Ver. João Dib, 01 Pedido de Informações; pelo
Ver. Vicente Dutra, 02 Pedidos de Providências; 01 Indicação; pelo Ver. Wilton
Araújo, 02 Pedidos de Providências. Do EXPEDIENTE constou o Ofício nº 155/89,
do Gabinete do Governador do Estado. A seguir, foram aprovados os seguintes
Requerimentos: do Ver. José Alvarenga, solicitando Licença para Tratar de
Interesses Particulares no dia de hoje; do Ver. Mano José, solicitando Licença
para Tratamento de Saúde, nos dias dois e três do corrente mês. Em
prosseguimento, o Sr. Presidente declarou empossados na Vereança os Suplentes
Antonio Losada e Martim Aranha Filho, respectivamente, em substituição aos
Vereadores José Alvarenga e Mano José, e, informando que S. Exas. já
prestaram compromisso legal nesta Legislatura, ficando dispensados de fazê-lo,
comunicou-lhes que passariam a integrar, respectivamente, as Comissões de
Economia e Defesa do Consumidor e de Saúde e Meio Ambiente. A seguir, o Sr.
Presidente informou que o período de Comunicações da presente Sessão, a
Requerimento, aprovado, do Ver. Vicente Dutra, seria destinado a um debate a
respeito da possibilidade de transformação do Hospital Pronto Socorro em uma
Fundação, convidando os Líderes de Bancada a conduzirem ao Plenário as autoridades
e personalidades presentes. Compuseram a Mesa: Ver. Valdir Fraga, Presidente da
Câmara Municipal de Porto Alegre; Bel. Maria Luiza Jaeger, Secretária Municipal
de Saúde e Serviço Social; Dr. Hamilton Petry de Souza, Diretor Geral do HPS;
Sr. Paulo Barbosa Soares, Diretor Administrativo do HPS; Sr. Cláudio de
Oliveira, Vice-Presidente do Centro de Estudos do HPS; Sr. Luiz Henrique Motta,
da Coordenadoria de Hospitais e Serviço de Emergência da SMSSS; Sr. Antônio
Carlos Melo, Presidente da FEPLAM; Sra. Erminda, representando a FEPLAM; Dr.
Roberto Barros Benevett, Diretor Administrativo da Fundação Universitária de
Cardiologia; Ver. Lauro Hagemann, 1º Secretário da Câmara Municipal de Porto
Alegre. Ainda, o Sr. Presidente registrou a presença da Sra. Sandra Denise
Lopes, Presidente da Associação dos Funcionários do HPS. Após, o Sr. Presidente
passou a palavra ao Ver. Vicente Dutra que, como proponente do debate, disse
que a idéia de transformar o HPS em fundação não é nova, mas que retorna à
pauta sempre em épocas de crise, como a que vivemos no momento. Com vistas ao
desenvolvimento dos trabalhos, propôs duas questões: a Prefeitura Municipal
como instituidora da fundação, e esta como ente privado, discorrendo sobre as
mesmas. A Secretária da SMSSS falou sobre a precariedade dos recursos liberados
pelo Governo Federal para a área da saúde, bem como da demora no repasse dos
mesmos. Solicitou o apoio dos Senhores Vereadores, quando do gestionamento,
junto à Secretaria de Saúde do Estado e à Previdência Social, de mais verbas
para a referida área. Quanto ao tema em questão, disse acreditar que uma
reforma administrativa e a liberação de mais recursos sanariam as dificuldades
enfrentadas hoje por aquele Hospital. O Presidente da FEPLAM historiou os
motivos que originaram a criação da Fundação, os quais baseiam-se,
principalmente, no binômio educação e saúde, citando as pessoas físicas e
jurídicas que participaram do nascimento da entidade. Disse que a Fundação tem
recebido verbas de todas as esferas governamentais, bem como doações, e
desenvolvido atividades que carreiam recursos, os quais são reaplicados em
programas na mesma. O Diretor Administrativo da Fundação Universitária de
Cardiologia falou das vantagens da entidade privada, especialmente no que se
refere ao poder decisório de que se encontra investida. Referiu-se aos recursos
obtidos com a prestação de serviços da Fundação, que conta com um corpo médico
e paramédico altamente especializado e aos quais são dadas condições funcionais
para que se dediquem quase que totalmente ao que ali realizam. A seguir, a
Secretária da SMSSS, o Diretor Geral do HPS, o Diretor Administrativo da
Fundação Universitária de Cardiologia, o Diretor Administrativo do HPS, a
Presidente da Associação dos Funcionários do HPS e o Vice-Presidente do Centro
de Estudos do HPS, debateram e responderam às questões formuladas pelos
Vereadores Omar Ferri, Dilamar Machado, Adroaldo Correa, Aranha Filho, Vicente
Dutra e José Valdir, acerca da reforma administrativa no HPS; do caráter de
ente privado a ser assumido pelo HPS, se transformado em fundação; da
perspectiva de contratação de funcionários; da suficiência de verbas,
considerando a diversidade dos serviços oferecidos e a quantidade de pessoas
atendidas naquele Hospital; do percentual da receita do Fundo Municipal de
Saúde destinado ao HPS e das doações àquele Hospital. Ainda, o Sr. Presidente
acolheu Questão de Ordem do Ver. Dilamar Machado, acerca do encaminhamento, a
ser dado pela COSMAM, ao assunto ora em debate, e, agradecendo o comparecimento
das autoridades, declarou encerrado o debate. Em COMUNICAÇÃO DE LÍDER, o Ver.
Luiz Machado, reportando-se a pronunciamento anteriormente feito, criticou a
Administração Popular quanto a retirada, pela SMIC, de pequenos comerciantes do
Bairro Ipanema, lendo entrevista concedida pelo Titular daquela Pasta a jornal
da Capital, a respeito do assunto. O Ver. Omar Ferri, em nome de seu Partido, o
PSB, criticou a tentativa de desmoralização, por alguns funcionários da FESC,
em relação ao Presidente daquela Fundação, Dr. Bruno Mendonça Costa, com o qual
solidarizou-se. O Ver. João Dib prestou sua solidariedade ao Titular da SMIC,
por ter o mesmo resolvido a questão dos comerciantes do Bairro Ipanema. Falou
da situação em que deixou a Prefeitura Municipal, ao término de sua
administração, contraditando o relatório final da gestão do ex-Prefeito Alceu
de Deus Collares, e dizendo que fará uma análise mais rigorosa quanto a esse
relatório. O Ver. Vieira da Cunha, reportou-se ao pronunciamento do Ver. João
Dib, criticando transações bancárias efetuadas à época em que S. Exa.
encontrava-se à frente do Executivo Municipal. Criticou, ainda, a Administração
Popular, quanto a considerações tecidas por essa à administração anterior. Leu
cópia da carta do Presidente da FESC aos funcionários daquela Fundação, acerca
de seu pedido de demissão do cargo. O Ver. Flávio Koutzii, disse ter
encaminhado Moção de Repúdio ao ato praticado, na madrugada de ontem, contra o
memorial construído em homenagem aos trabalhadores mortos em Volta Redonda,
entendendo ter sido o mesmo de responsabilidade de um grupo de ultra-direita.
Referiu-se a empréstimo contraído pelo Executivo Municipal, para fins de
pagamento da folha de pessoal, analisando a responsabilidade pelo mesmo.
Comentou a agressividade observada em manifestação de funcionários da Companhia
Carris Porto-Alegrense, ocorrida na última sexta-feira. Nada mais havendo a
tratar, o Sr. Presidente levantou os trabalhos às dezesseis horas e trinta e
nove minutos, convidando os Senhores Vereadores para a Sessão Solene a ser
realizada às dezessete horas. Os trabalhos foram presididos pelos Vereadores
Valdir Fraga e Adroaldo Correa, e secretariados pelos Vereadores Lauro Hagemann
e Wilton Araújo. Do que eu, Lauro Hagemann, 1º Secretário, determinei fosse
lavrada a presente Ata que, após lida e aprovada, será assinada pelo Sr.
Presidente e por mim.
O SR. PRESIDENTE (Valdir
Fraga): Estão abertos os trabalhos da presente Sessão.
Sobre a mesa dois Requerimentos para serem votados: de autoria do Ver. José
Alvarenga, solicitando Licença para Tratar de Interesses Particulares no dia de
hoje; de autoria do Ver. Mano José, solicitando Licença para Tratamento de
Saúde nos dias 2 e 3 do corrente mês. Em votação os Requerimentos. (Pausa.) Os
Srs. Vereadores que os aprovam permaneçam sentados. (Pausa.) APROVADOS.
Solicito aos Srs. Líderes de Bancada que introduzam no Plenário o Sr.
Antônio Losada, Suplente pelo PT, que irá assumir a Vereança em substituição ao
Ver. José Alvarenga, que se encontra licenciado.
(O Sr. Antônio Losada dá entrada no Plenário.)
O SR. PRESIDENTE: Convido o Sr. Antônio Losada
a tomar assento em sua Bancada e informo ao Plenário que, já tendo S. Exª
prestado compromisso regimental nesta Legislatura, fica dispensado de repeti-lo
nesta oportunidade, nos termos do § 2º do art. 5º do Regimento Interno.
Declaro empossado o Sr. Antônio Losada e informo que S. Exª deverá
integrar a CEDECON.
Solicito aos Srs. Líderes de Bancada que introduzem no Plenário o Sr.
Aranha Filho, Suplente pelo PDS, que irá assumir a Vereança em substituição do
Ver. Mano José, que se encontra licenciado.
(O Sr. Aranha Filho dá entrada no Plenário.)
O SR. PRESIDENTE: Convido o Sr. Aranha Filho a
tomar assento em sua Bancada e informo ao Plenário que, já tendo S. Exª
prestado compromisso regimental nesta Legislatura, fica dispensado de repeti-lo
nesta oportunidade, nos termos do § 2º do art. 5º do Regimento Interno.
Declaro empossado o Sr. Aranha Filho e informo que S. Exª deverá
integrar a COSMAM.
A seguir, passaremos às
Este período será destinado a um debate a respeito da possibilidade da transformação do Hospital Pronto Socorro em uma Fundação, a requerimento do Ver. Vicente Dutra, que foi aprovado por esta Casa.
As autoridades convidadas já se encontram na Casa, conforme informações
da nossa Assessoria de Relações Públicas: Bel. Maria Luiza Jaeger, Secretária
da SMSSS; Dr. Hamilton Petry de Souza, Diretor-Geral do HPS; Srª Sandra Denise
Lopes, Presidenta da Associação dos Funcionários do HPS; Prof. Rubem Rodrigues,
Presidente da Fundação Universitária de Cardiologia.
Solicito ao Sr. Ênio Rockenbach que conduza ao Plenário os convidados.
Registramos, também, a presença do Sr. Paulo Barbosa Soares, Diretor
Administrativo do HPS; Sr. Cláudio de Oliveira, Vice-Presidente do Centro de
Estudos do HPS; Sr. Luiz Henrique Motta, Coordenador de Serviços de Emergência.
Com a palavra, o requerente Ver. Vicente Dutra.
O SR. VICENTE DUTRA: Sr. Presidente Valdir Fraga;
Srª Secretária da Saúde Maria Luiza Jaeger; Dr. Hamilton Petry de Souza,
Diretor-Geral do HPS; Sr. Paulo Barbosa Soares, Diretor Administrativo do HPS;
Sr. Cláudio Oliveira, Vice-Presidente do Centro de Estudos do HPS; Sr. Luiz
Henrique Motta, demais participantes deste debate, apenas para fazer uma
colocação inicial para ensejar o debate deste importante assunto, nós
poderíamos dizer que esta Casa se transforma, hoje, num fórum, promovendo um
debate sobre assunto da maior relevância, um assunto que diz respeito a todos
os porto-alegrenses. Não há um porto-alegrense que não tenha a sua atenção
voltada, ou até mesmo a sua gratidão, muitas vezes, para o Hospital de Pronto
Socorro. Nós até poderíamos dizer que o Pronto Socorro encarna o consenso
municipal. Todos querem ver o Pronto Socorro funcionando, e funcionando bem.
A idéia da transformação do Pronto Socorro não é nova. Vem à pauta de
tempos em tempos, sem que se tenha aprofundado este estudo em torno do debate
para transformar o Pronto Socorro em fundação. E ele eclode, com maior ímpeto,
em época de crise. E vivemos num momento de crise nacional, que se reflete
muito dentro do Município e, evidentemente, e, particularmente, no Pronto
Socorro. E esta Câmara serve como ponto de encontro das correntes, promovendo,
sem facciosismo, sem partidarismo, mas, com muito respeito, por aquilo que
representa o objetivo final da discussão, que é a vida humana.
Então, deste objetivo final, deste nobre objetivo, que é a preservação da vida, é que devemos tirar a orientação para esta tarde de debates. É a nossa proposta. O debate também servirá para esclarecer os que têm dúvidas, que, quem sabe, poderão ser a maioria, os que ainda não têm um conceito formado sobre as vantagens e desvantagens da transformação em fundação, dando a oportunidade de que estas pessoas, participando do debate, possam melhor se posicionar. A pressão feita deve ser calcada em conteúdos de valores na discussão, pois entendemos que a mudança de estrutura, ou se faz pelo apoio quase unânime das autoridades envolvidas e da comunidade, ou não se faz nada. Unanimidade não vamos conseguir nunca, pois não existe um assunto no mundo que tenha unanimidade, mas que, pelo menos, haja uma grande maioria favorável à idéia, e assim procedermos à mudança; se houver 50% contrário, que não se faça nada. Procuraremos não enfatizar os aspectos jurídicos que interferem na mudança proposta, porque entendemos não relevantes nesta fase do debate. São questões formais, simples, que poderão ser implementadas em ocasiões oportunas pela plêiade de excelentes juristas que a Prefeitura possui. Óbvio que não vamos entrar no aspecto de como se faz a fundação, pois é um assunto simples, singelo, podendo ficar para depois.
Com vistas ao debate desta tarde, destacaríamos, para início de debate,
dois aspectos: primeiro, a definição de fundação que é um patrimônio a serviço
de um fim; segundo item para debate é a condição de ente privado que se
estabelece para a fundação. Com relação à primeira questão da definição, o
patrimônio da fundação provém de um instituidor, ou instituidores. Este é um
detalhe da maior importância para a gente entender, com profundidade, o que é
uma fundação. O instituidor único, ou o instituidor principal, em ambos os
casos, a Prefeitura Municipal de Porto Alegre, ou ela institui a fundação como
único instituidor ou ela passa a ser o instituidor principal juntamente com
outros instituidores. Este instituidor único ou principal diz, através de uma
escritura pública geralmente aprovada pela Câmara, como quer que este
patrimônio atinja seus objetivos e como deve ser administrada a fundação.
Portanto, ou o Município continua com a vontade administrativa e a direção da
fundação do Hospital de Pronto Socorro e a direção será de livre nomeação e
demissão do Prefeito Municipal. O instituidor principal, ainda recordando, a
Prefeitura Municipal de Porto Alegre deve convidar outras entidades, de outros
municípios para serem, juntamente com ele, instituidores, porque ajudarão na
constituição do patrimônio inicial e estarão comprometidos por serem
instituidores na manutenção da fundação. Aí é um ato, evidentemente, de
inteligência do Município, de convidar todas aquelas entidades e principalmente
os municípios da Região Metropolitana para que, juntamente com o Município de
Porto Alegre, ele sempre como instituidor principal, constitua o quadro de
instituidores. Porque, já nesta instituição, eles comporão o patrimônio
principal da fundação, entre a Prefeitura Municipal de Porto Alegre, é ela o
instituidor principal, ela que detém o maior patrimônio, ela que tem o comando,
e depois, como instituidores, e podendo, inclusive, fazer parte de um conselho
deliberativo. Estes mesmos instituidores terão a responsabilidade pela
manutenção deste hospital.
O segundo item que nós estabelecemos para a proposta do debate se
refere ao ente privado. Então, é sabido que todas as fundações são de caráter
privado. Está claro, não há mais discussão nenhuma no mundo doutrinário. Por
definição inclusive do Decreto Lei nº 900, está claro que as fundações
subexistem no mundo do direito privado. Mas longe disto se tornar um entrave a
uma fundação vinculada ao Poder Público, espera-se ser este o maior valor que a
fundação pode ter. Esta maior qualidade que ela possa ter. É o seu corpo forte.
Abre perspectivas extraordinariamente importantes para o bom desempenho na
busca do objetivo-fim e na administração dos meios do hospital. Sendo a
fundação vinculada ao Poder Público, ela continua recebendo recursos
provenientes do erário municipal, são detalhes também que grassaram por aí,
quando se discutia esse assunto da transformação do Pronto Socorro em fundação
de que passando para fundação perde as verbas. Absolutamente! Estão aí exemplos
muito estabelecidos, conhecidos de todos, como a FEBEM. A FEBEM tem verbas
estaduais, Fundação Gaúcha do Trabalho, a Fundação de Recursos Humanos, enfim,
todas essas fundações da área estadual e da área federal que são vinculadas ao
Poder Público não perdem a sua condição de recebedoras de recursos do erário
federal, estadual ou municipal. Mas não fica só na dependência dessas verbas
públicas. Ouvi dizer que no início, a maior vantagem da fundação ser de caráter
privado, sendo do mundo privado, se beneficia de tudo que a legislação prevê
para as instituições privadas, tais como subvenções, auxílios, convênios,
doações, isenções e imunidades tributárias. Todos esses itens que muitas vezes
só são atingidos por entidades do mundo privado. E se é a legislação brasileira
que assim estabelece, que esses recursos só podem ser alcançados por entidades
privadas, sendo o Pronto Socorro atualmente uma entidade totalmente pública,
não pode se beneficiar de uma gama enorme de recursos via doações, via
auxílios, subvenções e até de imunidades tributárias.
Eu só falarei aqui de uma imunidade prevista na Constituição, a tocante
às taxas previdenciárias hoje chamadas securidades sociais, artigo 195,
parágrafo 7º da atual Constituição. Prevê que as entidades beneficentes, de
assistência social, no caso o Pronto Socorro que é uma entidade beneficente de
assistência social, poderão gozar de isenção da securidade social, isto é,
aquela parte que toca à empresa pagar, em torno de 20 a 23%, estaria isento. No
momento que é instituída a fundação, os funcionários dali para adiante, os
novos que entrarem, fica bem entendido, a ser regidos pela CLT, e ela tem
isenção da parte que toca à Previdência Social. Quer dizer, é um recurso enorme
que fica dentro da instituição para ser carreado aos objetivos do Pronto
Socorro.
No tocante às doações, a potencialidade do Pronto Socorro é
incomensurável. É, no mínimo, do tamanho da Região Metropolitana. Só para se
ter uma idéia da dimensão desta potencialidade da doação, eu perguntaria
quantas famílias não utilizaram ainda o Pronto Socorro na Região Metropolitana?
Se eu perguntar quantas famílias utilizaram, todo o mundo vai levantar a mão. É
rara a família que ainda não o utilizou. A potencialidade é muito maior do que
a da Santa Casa, é muito maior do que qualquer outra instituição do gênero,
porque quem não contribuir por espírito de humanidade, poderá contribuir até
porque está sabendo que, em contribuindo, estará formando, adaptando este
hospital para, quem sabe, um dia recebê-lo, na eventualidade, de um acidente.
Estes dois argumentos: ou por humanidade ou para sua autoproteção. Acho
que devemos deixar de lado qualquer prurido ideológico com relação às doações
que são práticas que se acumulam em todos os países desenvolvidos. Na Alemanha,
a contribuição é feita de várias formas; e a principal é aquela que é recolhida
junto com o Imposto de Renda. O contribuinte do Imposto de Renda,
espontaneamente - não é nada deduzido no Imposto de Renda -, ao pagar o Imposto
de Renda, acrescenta um plus. Este plus vai para o partido
político que ele indicar, se indicar, e para as entidades beneficentes, que ele
indicar também no Imposto de Renda. Então o Governo já recolhe. É um serviço
que o Governo presta aos contribuintes. E muito deste dinheiro que é recolhido
pela Alemanha vem para o Brasil, através daquela instituição que não sei o nome
em alemão, mas que se chama “pão para o povo”, e Cáritas e outras tantas. O
próprio Governo carreia dinheiro para cá dessa contribuição que é feita pelos
contribuintes espontaneamente. Nos Estados Unidos, onde as fundações são
amplamente utilizadas, existe todo um processo de patrocínio através de
campanhas, chás, jantares, que sustentam inclusive universidades inteiras
naquele País. Esse processo todo tem um nome: chama-se participação. Nós, com a
participação de todos, da comunidade, da entidade, de Rotary, de Lions, de
FIERGS, de Associações Comerciais, enfim, de todas as pessoas de boa vontade -
e são muitas que existem neste País - nós poderemos realmente dotar o Pronto
Socorro de todos aqueles recursos de que ele necessita para atingir seus
objetivos e não angustiar a direção, excelentes administradores, mas que,
permanentemente, estão angustiados, vivendo aquela dicotomia administrativa: lá
na ponta, na sala de cirurgia, na UTI, onde são feitos os curativos, ela é
rápida, é dinâmica, é determinada, é pronta; e na administração, por mais que
os administradores sejam competentes, por mais que lutem, ela é emperrada,
porque a máquina administrativa é emperrada, porque os recursos não existem. O
que ocasiona angústia para o Diretor Administrativo, para o Diretor-Geral do
Pronto Socorro, para a Secretaria do Governo, para a Secretaria da Fazenda e,
lá pelas tantas, o algodão que está sendo esperado não vem, apesar de toda a
angústia. Se o problema for de pessoal, a angústia é redobrada e todos sabemos
disso. Com a fundação, teríamos todos esses problemas sanados, tenho certeza de
que em grande parte, embora ela não seja a panacéia para todos os males, mas é
um instrumento ágil para solucionar todos os problemas que hoje acometem o
Pronto Socorro.
Na parte de aprimoramento da classe dos médicos, enfermeiros,
auxiliares, poderia ser criado um conselho técnico, com a participação dos
funcionários, quem sabe, onde seriam tratados convênios para bolsas de estudos
no exterior, recursos para o aprimoramento da classe médica, inclusive,
suplementando salários. É bom que se diga que em uma das ocasiões em que foi
aventada essa idéia, correu a informação de que os técnico-científicos, os
médicos, enfim, não poderiam mais receber porque a fundação é de caráter
privado. Não é verdade, eles continuam e vão ser cedidos para a fundação, vão
ser colocados à disposição da fundação e esta, como é de caráter privado, pode
suplementar os salários.
O Sr. Elói Guimarães: V. Exª permite um aparte?
(Assentimento do orador.) V. Exª está sustentando a tese de que a natureza
jurídica do Pronto Socorro bloqueia a sua atividade-fim e há necessidade de uma
alteração jurídica do ente Pronto Socorro para que ele melhor atinja suas
finalidades? Essa é a colocação de V. Exª?
O SR. VICENTE DUTRA: Eu não diria bloqueia, diria
inibe. Bloquear seria como se estivesse trancado há muitos anos, mas ela inibe
muito a obtenção da atividade-fim, que é a cura das pessoas.
Assim, Sr. Presidente, encerro essas colocações iniciais e podemos
passar ao debate. Sou grato.
O SR. PRESIDENTE: Nós vamos apresentar os
nossos convidados novamente: a Secretária Municipal de Saúde, Srª Maria Luiza
Jaeger; Dr. Hamilton Petry de Souza, Diretor-Geral do HPS; Sr. Paulo Barbosa
Soares, Diretor Administrativo do HPS; Sr. Cláudio de Oliveira, Vice-Presidente
do Centro de Estudos do HPS; Sr. Luiz Henrique Motta, Vice-Presidente da
Secretaria de Saúde; Sr. Antônio Carlos Melo, Presidente da FEPLAM; Srª Ermínia
Miragem, da Coordenação da FEPLAM; Dr. Roberto Barros Benevett, Diretor Administrativo
da Fundação Universitária de Cardiologia e o Dr. Ubirajara Motta, que se
encontra no Plenário. É uma satisfação em recebê-lo nesta Casa.
Nós vamos colocar a palavra à disposição da Secretária, Maria Luiza
Jaeger, logo após, do Dr. Carlos Melo, da FEPLAM e, também, do Dr. Roberto
Barros Benevett, porque aí a Secretária de Saúde fala em nome da sua Secretaria
e também em nome do HPS. Fica mais fácil para ouvirmos a posição da Fundação;
da FEPLAM a mesma coisa, e do Instituto de Cardiologia, a mesma coisa.
Gostaria de que se estabelecesse o tempo de dez minutos, se possível.
A SRA. MARIA LUIZA JAEGER: Em primeiro lugar, quero
agradecer aos Srs. Vereadores, em especial, ao Ver. Vicente Dutra, ao convite
para discutir a situação que se encontra o HPS e a rede de serviços de saúde do
Município.
A primeira coisa que queremos colocar é que a situação, que a gente
considera que tem que ser discutida, são os recursos que, hoje, estão sendo
colocados pelo Governo Federal, Governo Estadual e Governo Municipal, na área
de saúde. E isto não é só um problema do Hospital de Pronto Socorro de Porto
Alegre. A gente está com uma notícia do “Estado de Minas”, de 23 de abril de
1989, em que o Diretor do Hospital de Pronto Socorro de Belo Horizonte, que é
um hospital ligado à Fundação Hospitalar de Minas Gerais, coloca os problemas
de recursos existentes e de mal funcionamento do hospital. A última vez que o
hospital, que é ligado a uma Fundação, conseguiu comprar material foi em
dezembro e hoje está com sérios problemas com recursos de pessoal.
Então, o que acho que está em discussão e o que a gente pede apoio aos
Vereadores é no sentido de que necessitamos, urgentemente, maiores recursos
para a área de saúde e um repasse para a área de saúde pública, que realmente
dê condições de funcionamento, tanto para a rede ambulatorial, quanto para a
rede hospitalar ligada à rede pública.
Então, pela própria notícia do Hospital de Pronto Socorro, de Belo
Horizonte, a nossa posição é que fundação não é a solução. A solução é que se
tenha uma administração direta, primeiro, com recursos orçamentários e uma
administração direta que seja ágil, eficiente e eficaz e, para isso, é
necessária uma reforma administrativa dessa administração direta e não é
duplicando as instituições que vai-se resolver o problema. Basicamente é
necessária essa reforma e são necessários maiores recursos para a área de
saúde. E recursos vindos - afinal, todos nós enquanto trabalhadores
contribuímos - da Previdência Social, direta ou indiretamente. Quer dizer, no
momento em que a gente compra qualquer produto nós estamos pagando a
Previdência Social, porque os empresários repassam nos seus preços o que ele
acaba pagando para a Previdência Social. Então, todos nós somos contribuintes,
direta ou indiretamente, da Previdência Social e esses recursos têm de vir não
só para a área de previdência social, mas, também, para a área da saúde.
Quanto às fundações: acho que foi uma alternativa durante a década de
70, 80, como não se conseguia fazer uma reforma administrativa conseqüente se
acabava saindo pelo caminho das fundações. Das várias tentativas de criação de
fundações que houve em 1982, tivemos a proposta de criação, em nível de Estado,
da Fundação da Saúde Pública.
Quais as críticas que se faz em relação à criação de fundações?
Primeiro: que a Administração Direta pode ser uma máquina ágil, e pode fazer um
trabalho conseqüente na área da saúde, não precisa criar uma outra
administração, e uma administração que tem participação privada, mas
basicamente o recurso vem do setor público. É importante, depois, que o
Instituto de Cardiologia coloque qual o percentual dos seus recursos que sai da
área pública e qual o percentual que vem da área privada, para se ver,
realmente, de onde saem os recursos que mantêm fundações, como a FEBEM e a FEE,
que são fundações que basicamente vivem de recursos públicos.
A outra questão é que o controle financeiro, patrimonial, é muito menos
rígido que o controle que deve ser feito na Administração Direta pelas Câmaras
de Vereadores, Assembléia Legislativa, Congresso Nacional e Tribunal de Contas.
Outra questão é a escolha de direção, como coloca o Ver. Vicente Dutra,
que é feita pelo Prefeito, enquanto que todas as discussões que estão sendo
feitas em nível de Administração Popular é que haja uma escolha via eleição
para cargos de chefia de serviço, seja de unidades sanitárias ou do HPS. Não é
um processo do dia para a noite, mas é um processo que já começou e que já está
dentro do HPS. A gente acha que os servidores e a população têm que participar
da direção dos serviços de saúde, e têm que participar da escolha da sua
direção.
Outra questão é a questão de pessoal. O que aconteceu com a maioria das
fundações é que há um contrato de trabalho que rege estas fundações, que é a
CLT, que fez com que essas fundações tivessem todo um processo de admissões sem
concurso, e fazendo com que o clientelismo fosse a regra de funcionamento
dessas fundações. E, além disso, as fundações, por terem um regime de CLT,
possibilitam a demissão. Quer dizer, como elas possibilitam a admissão sem
concurso, elas possibilitam, com muito mais facilidade - e isso vem acontecendo
na Fundação Hospitalar de Minas Gerais - demissões de dezenas e dezenas de
funcionários.
O SR. OMAR FERRI: A Senhora afirmou que os serviços
do Pronto Socorro poderiam ser melhorados desde que houvesse maiores recursos
orçamentários - isso é uma evidência. Em segundo lugar, que houvesse uma
reforma administrativa. Então, a pergunta que faço é a seguinte: Reforma
administrativa, qual o objetivo e em que consistiria?
O SR. PRESIDENTE: Vereador, nós queremos
solicitar aos Srs. Vereadores que anotem as perguntas que desejam fazer para
que quando a Secretária terminar a sua explanação, ela possa respondê-las.
Temos que ouvir, ainda, os representantes do Hospital de Cardiologia e da
FEPLAM. Ao final, os Vereadores poderão manifestar-se e assim a coisa fica mais
organizada.
A SRA. MARIA LUIZA JAEGER: Resumidamente, o importante
para nós é o debate sobre essa posição da Administração Popular de tornar o
Hospital Pronto Socorro numa fundação e as colocações que queríamos fazer são
essas.
O que a gente deseja dos Vereadores é uma luta junto com a
Administração Popular, com a Secretaria de Saúde do Estado, com o Ministério da
Previdência, no sentido de maior repasse de recursos. A outra coisa é que a
gente está reestudando tudo o que o Ver. Vicente Dutra colocou sobre o Fundo
Municipal de Saúde, como a possibilidade de doações por parte do setor privado.
A gente não é contra doações do setor privado, tanto é que na data do
aniversário do HPS, tanto o Prefeito, quanto a direção do HPS e a direção da
Secretaria colocaram que estamos abertos a doações e isso é possibilitado pelo
Fundo Municipal de Saúde que a gente pretende agilizar, fazer uma proposta de
reformulação da Lei do Fundo Municipal de Saúde, porque o Fundo nos possibilita
uma maior agilidade financeira, de utilização dos recursos financeiros.
É essa proposta, inclusive, da Legislação Complementar da Constituição,
que vai ser debatida no dia 9, 10, 11, no Congresso Nacional, na sua Comissão
de Saúde, que é a criação do fundo municipal, estadual, nacional de saúde, com
uma maior agilidade financeira. E com um repasse automático da União para os
Municípios, de recursos para a área da saúde. Resumidamente, era isso.
O SR. PRESIDENTE: Passamos a palavra ao Dr.
Antônio Carlos Melo, Presidente da FEPLAM.
O SR. ANTÔNIO CARLOS MELO: Sr. Presidente, Srs.
Vereadores, quero inicialmente declarar a minha satisfação de poder comparecer
a esta Casa, a integrar esse debate, sobre a importância de se instituir, ou
não, uma fundação para os serviços do Pronto Socorro.
E, venho a esta Casa revestido da condição de Presidente da Fundação
Educacional Padre Landell de Moura. Instituição gaúcha, que completa agora,
esse mês, 22 anos. E que ao longo deste período deixa a este Estado, deixa ao
País um acervo de realizações que muito diz do acerto da instituição dessa
Entidade.
A FEPLAM nasceu, Sr. Presidente, em 1967, como fruto do anseio que ia,
de modo específico, em toda a América Latina, que era de conseguir melhores
meios, melhores condições, de se poder enfrentar, juntamente com o Poder
Público, esse grande desafio latino-americano, que é a educação. E, naquela
época, como nos dias de hoje, não logrou-se poder atender com toda extensão
esse problema, que eu creio que, juntamente com a saúde pública desse
continente, são os dois maiores problemas que nós enfrentamos: educação e
saúde, constituísse efetivamente no grande binômio que fatalmente tem que ser
enfrentado para que os países latino-americanos possam lograr, pretender sequer
o seu desenvolvimento. Não existe desenvolvimento com homem ignorante, não
existe desenvolvimento com homem carente. Naquele final de década, aqui no Rio
Grande do Sul, fruto do próprio espírito do gaúcho, diversas personalidades do
campo da educação, do campo da militância política e órgãos públicos decidiram
reunir-se num organismo que, embora não sendo público, conseguisse ser o
escoadouro de todas estas participações. E lá estavam: o Ministério da
Educação; lá estava a Secretaria de Educação do Município; a Secretaria de
Educação do Estado; o Ministério do Trabalho; a Secretaria do Trabalho;
empresários, como Paulo Vellinho; políticos militantes que na ocasião até
estavam afastados da vida pública, como Nelson Marchezan; professores eméritos,
como Jorge Furtado, Carrion Júnior; dois baluartes do Rio Grande do Sul, Irmão
Miguel Ótão. Também na ocasião o Reitor da Universidade de Santa Maria, bem
como o Reitor da Universidade do Rio Grande do Sul, circundados por professores
de renome da praça, como: Zilá Totta, Frederico Lamachia, que havia sido
inclusive Secretário de Educação do Município, e mais outros nomes de
militância no setor de educação. Esse grupo todo de pessoas físicas e jurídicas
resolveu criar uma instituição que, não sendo fundamentalmente presa ao setor
público, reunindo homens, entidades, empresários, órgãos públicos, pudesse
trazer a sua participação de uma maneira sui
generis, no sentido de fazer educação, sem contudo pretender que a
educação, que ela viesse a cuidar, fosse uma educação que rivalizasse com a
educação, quer do Poder Público, quer aquela educação entregue às entidades
particulares. Pretendíamos que a FEPLAM tivesse uma possibilidade de se jogar
no campo da educação, que atendesse àquela população, muitas vezes até aquele
jovem, que se não fosse através de um trabalho muito especial, sequer teria
condições de ter o exercício desse direito elementar da pessoa, que é
educar-se. E, através dos processos modernos da comunicação e telecomunicação,
surgia um trabalho pioneiro, que, hoje, quase chegando aos 22 anos, podemos
dizer que chegam a mais de seiscentas mil pessoas. Várias delas foram
Vereadoras, aqui nesta Casa, e fizeram os seus estudos complementares na
FEPLAM.
Mas, Sr. Presidente, esta obra que entusiasma um grupo, como no meu
caso, que venho na direção desta Instituição há oito anos, sem ganhar um tostão
e, muitas vezes, botando do meu bolso o dinheiro, por outro lado nos leva a um
desânimo, pois constatamos que o esforço todo que se despendeu ainda é quase
insignificante. E o que é pior, não teve o condão de comover o Poder Público,
porque o grande problema da educação neste País, neste Estado, neste Município,
como creio, também, que o grande problema da saúde chama-se não ter recebido
até hoje a prioridade das esferas administrativas, executivas, porque, no
momento em que se decidir, neste País, dar saúde a todo mundo ou dar educação a
todos os brasileiros, nós teremos a solução. E quando constamos, hoje, dados,
por exemplo, como os que deu há poucos dias o Conselho Federal de Educação de
que aproximadamente sete milhões de crianças, da faixa etária dos 7 aos 14
anos, estão fora das escolhas neste País, quando constatamos que dezessete
milhões de jovens acima de 14 anos nunca freqüentaram os bancos escolares, que
mais de sessenta milhões de jovens e adultos alcançaram, no máximo, quatro anos
de escolarização, nós, de fato, ficamos estarrecidos com a tarefa imensa a ser
enfrentada.
A Fundação Landell de Moura para consecução dos seus objetivos tem
recebido verbas federais, verbas estaduais, verbas municipais, embora tenha que
dizer que a verba prometida pelo Governo Federal, do ano passado, sequer ainda
chegou à Instituição.
A flexibilidade que uma Fundação permite é que nos tem dado condições
de chegarmos ao dia de hoje, por exemplo, cumprindo com aquilo que nós
traçamos. A FEPLAM, por exemplo, se vê obrigada a desenvolver atividades que
rendem recursos para serem aplicados na educação. Exemplo: recebeu, como
doação, da Fundação Konrad Adenauer, da Alemanha, um estúdio de televisão, um
estúdio de porte bom, moderno, e que nos enseja, hoje, produzirmos, no campo da
televisão, não só para os nossos programas educativos, como também para
angariar recursos e aplicar em educação. Temos uma gráfica de porte médio que,
além de servir para os trabalhos todos, presta serviços para fora. Com isso,
também angariamos recursos para aplicar. Assim, o laboratório fotográfico e
diversos outros serviços.
Então, efetivamente, uma fundação tem esta flexibilidade, tem esta
possibilidade de poder produzir e angariar, através de seus trabalhos, alguns
recursos para atender às suas finalidades. Basicamente, era isso que eu
gostaria de colocar em relação a esta Instituição e também dizer que ela tem
tido a felicidade de se credenciar pelo seu próprio trabalho, no campo
internacional e, com isso, tem carreado recursos de bastante vulto. Além das
doações do estúdio de televisão, uma gráfica toda foi doação e também
desenvolvemos diversos projetos com financiamentos ou doações de agências
internacionais. Por exemplo, tivemos, durante vinte e dois anos, projetos
financiados pela Fundação Olander. Temos projetos de desenvolvimento da mulher,
lá no interior, Getúlio Vargas, financiados por uma fundação holandesa. Temos
projetos aqui, na Grande Porto Alegre, financiados por uma fundação
interamericana. E estamos com diversos projetos, também, para alocar recursos,
na Alemanha e na Bélgica. E temos esperança de poder carrear, este ano, para a
instituição poder desenvolver projetos que achamos da maior importância. Eram
essas as colaborações que teríamos a prestar.
(Não revisto pelo orador.)
O SR. PRESIDENTE: Registramos, com prazer, a
presença da Srª Sandra Denise Lopes, Presidente da Associação dos Funcionários
do HPS.
Com a palavra, o Dr. Roberto Barros Benevett, Diretor Administrativo da
Fundação Universitária de Cardiologia.
O SR. ROBERTO BARROS
BENEVETT: Sr.
Presidente e Srs. Vereadores, inicialmente, gostaríamos de dizer aos senhores
que nos sentimos honrados, em nome da Fundação Universitária de Cardiologia, em
participar deste debate. Eu diria aos senhores que, por estarmos na Fundação e
realmente porque as evidências são flagrantes, nós somos uns admiradores
incontestes da associação empresa pública e fundação privada, administrando um
órgão público. Se os senhores quiserem estabeleçam um termo de comparação entre
a história do Instituto de Cardiologia, nos últimos vinte anos, e a história
dos demais hospitais da rede da Secretaria da Saúde: as diferenças são
incontestes, e, a par de uma série de fatores que contribuíram para essa
diferença significativa, o principal deles é, justamente, uma fundação privada
administrando o Instituto de Cardiologia.
Na realidade, a fundação privada permite que tenhamos uma maleabilidade
muito grande, permitindo que possamos exercer o poder decisório com a presteza
que um hospital, de uma maneira geral, exige, e, ainda mais, um hospital
especializado em cardiologia. Nestes vinte anos as coisas mudaram
progressivamente: no início era, praticamente, o Poder Público que mantinha o
Instituto de Cardiologia, mesmo sob a administração da Fundação. Essa situação
foi-se revertendo progressivamente, a ponto de, em 1986, o Poder Público ter
participado apenas com 1% do orçamento da Fundação, e os outros 99% foram
frutos de sua receita operacional. Vejam, que se não houvesse essa situação de
associação, Poder Público - Fundação, nós teríamos, hoje, o Instituto de
Cardiologia como um hospital sucateado, um hospital em péssimas condições. Dou
mais um exemplo: há cerca de 60 dias fechamos o câmbio para importação de dois
equipamentos de hemodinâmica, que são equipamentos sofisticados, de última
geração, e cujo custo vai a cerca de dois milhões de dólares. O que houve
então? O Poder Público participou com a parcela inicial de 20% do valor, e a
Fundação, através de estudos, tem absoluta certeza de que, uma vez instalado o
equipamento, a receita operacional que vai gerar o equipamento permitirá pagar
as prestações semestrais da aquisição do bem.
Já me antecipando a alguma pergunta, lhes diria que hoje a nossa
composição de receita está constituída em 77%, ao menos até o ano de 1988, de
prestação de serviço através de vários tomadores de serviços, e nesses 77%,
destaca-se a Previdência Social, o INAMPS, com 64%, o IPERGS, com 13%, e outros
convênios que somam o restante, o que completaria 100%. E o Estado, no caso a
Secretaria da Saúde e o Estado participam com 23% do orçamento da instituição.
Nós acreditamos que, particularmente, por ser uma atividade hospitalar
sofisticada, onde os equipamentos rapidamente entram em obsolescência, nós
acreditamos que esta associação é de um resultado significativamente
proveitoso. Nós achamos que, realmente, o sucesso do Instituto de Cardiologia
se deve a uma série de fatores, mas especialmente a esse. Se deve ainda a esta
associação o fato de podermos prender grande número de técnicos especializados,
quer na área médica, quer na área paramédica, porque podemos competir com um
salário de verdade. E isto faz com que também nos fixemos no Instituto, de
sorte que praticamente tenhamos um corpo clínico onde 40% dele trabalha em
tempo integral dentro das dependências do Instituto e da Fundação.
Eu não teria mais porque me alongar, estou à disposição para responder
qualquer pergunta.
O SR. PRESIDENTE: Ver. Omar Ferri, V. Exª
poderia repetir a pergunta.
O SR. OMAR FERRI: Na exposição da Drª Maria
Luiza, me parece, se não estou enganado, a Drª previu duas hipóteses para que
os serviços do Pronto Socorro melhorassem substancialmente. A primeira se trata
de recursos orçamentários que deveriam ser majorados. E a segunda uma reforma
administrativa. A minha pergunta é com relação à segunda hipótese. Qual o
objetivo da reforma administrativa e em que consistiria?
A SRA. MARIA LUIZA JAEGER: Está sendo discutida a nível
de Administração Popular a questão da reforma administrativa no sentido de
agilizar determinados processos administrativos. Nós temos que agilizar
processos de compra, descentralizar decisões e formas de utilização de
orçamento. Descentralizar. E para isto precisa discutir dentro desta reforma a
questão do Fundo Municipal de Saúde, que realmente a ele vá todos os recursos
que entram no Município para a área de saúde, via convênios, via doação, via
orçamento próprio do Município, via Previdência Social, e aí eu queria lembrar
aos representantes do Instituto de Cardiologia que a soma dos 64% mais 13% dá
os 77% de prestação de serviços. E esta prestação de serviços é paga com
recursos da Previdência Social, recurso que é público também, recurso dos
trabalhadores que contribuem para a Previdência Social. O que está havendo é um
repasse para determinados setores maior do que para outros. Basicamente, no
fundo, a Fundação de Cardiologia vive de recursos públicos, da Previdência
Social e do recurso do Estado, quer dizer o Estado acabou de repassar à
Fundação de Cardiologia todo o prédio onde estava o processamento de dados da
Secretaria do Estado.
O SR. ROBERTO BARROS
BENEVETT: Na
composição dos 77%, ou seja, 77% provém do INAMPS e do IPE. O restante vem de
outros convênios com outras instituições e um pequeno resultado do paciente
particular também.
(Não revisto pelo orador.)
A SRA. MARIA LUIZA JAEGER: O que a gente quer mostrar
com esta questão do orçamento é que as fundações, basicamente as fundações da
área de saúde, vivem de recurso público. Vivem de recurso, ou passado pelos
Estados, ou então repassado via Previdência Social.
Segundo, que não precisa ter uma fundação para poder ter uma máquina
mais ágil e para poder receber doações ou ter convênios do setor privado. Isso
o HPS tinha até há pouco tempo, sendo o Hospital de Pronto Socorro ele atendia
via convênios, inclusive com a UNIMED, com rede privada. Só que a posição do
setor público é que a atenção à saúde tem que ser gratuita e que todos os
trabalhadores já contribuem para a Previdência Social para ter esse serviço.
Em relação à questão da reforma administrativa, o que a gente coloca é
que é necessário fazer um reestudo do funcionamento da máquina administrativa
no sentido de tornar ela, a administração direta, mais ágil possível, que haja
descentralização de decisão e de recurso e que haja uma reforma de participação
democrática dos servidores e da população. Uma das formas para que isso ocorra
é reformular e rediscutir aqui na Câmara de Vereadores o Fundo Municipal de
Saúde, e outra, tornar parte do funcionamento do Município o que hoje se chama
Comissão Municipal de Saúde, mas que, pela proposta da legislação complementar,
seria o Conselho Municipal de Saúde por onde deveriam passar todas as decisões.
E a proposta, inclusive, em nível da legislação complementar, é que não se
tenha esta participação da população e dos servidores só a nível do Município,
mas também a nível de cada uma das unidades prestadoras de serviço, seja ela o
Hospital de Pronto Socorro, seja ela unidades sanitárias ligadas ao Município.
O SR. DILAMAR MACHADO: Sr. Presidente, o que se
discute nesta tarde por proposição do Ver. Vicente Dutra é a necessidade, ou se
seria ou não uma boa medida administrativa a transformação do Hospital de
Pronto Socorro numa fundação. Fica claro pelo pronunciamento repetido da
ilustre Secretária Municipal da Saúde que a Drª Jaeger não tem a disposição
pessoal, e é respeitável, não aceita como ponto pacífico a pura e simples
transformação do Pronto Socorro numa fundação.
O ilustre representante da Fundação Instituto de Cardiologia nos prova
através de dados o excelente resultado alcançado naquela entidade com este tipo
de administração, através de uma fundação, que também foi corroborado pelo
ilustre Dr. Bello com relação à FEPLAM, embora dificuldades que a Fundação
encontra.
Mas me parece, embora a minha proposta, Srª Secretária, que não tenha
nada quanto à quebra de hierarquia, pelo contrário, até dentro do projeto de
democratização recém exposto por S. Exª, acho que seria da maior importância,
para nós, Vereadores da Casa, ouvirmos o Pronto Socorro. E a minha proposta,
ilustre Presidente Valdir Fraga, é que ouçamos durante alguns minutos não só o
Diretor-Geral do Hospital de Pronto Socorro presente à Mesa, que é a pessoa que
diuturnamente lida com os dramas e os problemas que afligem o nosso principal
hospital de atendimento da comunidade e da região, como também, se possível dentro
do prazo, a representante dos funcionários do Pronto Socorro aqui presente,
Presidente da Associação dos Servidores do Hospital, para que nós tenhamos uma
idéia mais ampla e esta Casa possa trabalhar no sentido de ajudar e não
complicar a já complicada vida do nosso Hospital de Pronto Socorro.
O SR. ADROALDO CORRÊA: Sr. Presidente, Srs.
Dirigentes de Entidades presentes à Mesa, Srs. Vereadores. Eu gostaria,
primeiramente, de colocar, à Secretária Maria Luiza Jaeger, uma questão que me
parece bastante acentuada neste debate e eu gostaria de ver reprisado o enfoque
sobre o seguinte problema que me parece evidente na assistência à saúde no
Brasil: o caráter privado da prestação de serviços, ou da venda de serviços que
estaria relativamente vinculado ao caráter fundacional aberto na perspectiva do
Pronto Socorro, hoje um hospital de referência à massa de desassistidos na
Grande Porto Alegre, no Estado do Rio Grande do Sul, Santa Catarina e alguns
transeuntes uruguaios, argentinos e paraguaios; a perspectiva de relacionamento
com a contratação livre de funcionários na medida em que a fundação passa a ser
regida, posteriormente, pela CLT, o que eu gostaria de ver comentado também
pelos representantes do Centro de Estudos do Hospital Pronto Socorro e pelo
Diretor do Hospital. Não seria a questão do envolvimento de dois regimes de
contratação, e sim, uma administração que passa a ser designada pelo Prefeito,
ou no estilo que venha a ser definido, pelos fundadores da fundação talvez, e a
contratação livre de mão-de-obra, independente de concurso público, para
prestação de um serviço. É uma possibilidade.
A outra questão que me intriga também e que gostaria de ver sob o ponto
de vista do representante do Instituto de Cardiologia, é a referência relativa
ao tipo de serviço que sei não ser elitizado, mas também sei não ser massiva,
no nível em que é o Hospital Pronto Socorro. Não sei se a massificação do
caráter do atendimento como é posto no Hospital Pronto Socorro não
prejudicaria, em termos de fundação, o recolhimento de verbas suficientes para
o atendimento que é diferenciado no Instituto de Cardiologia e tem uma
especialidade, não um conjunto de especialidades como no Hospital Pronto
Socorro. São essas as questões que queria colocar.
O SR. PRESIDENTE: Ver. Adroaldo Corrêa, então,
a primeira pergunta V. Exª está dirigindo à Srª Secretária?
A SRA. MARIA LUIZA JAEGER: Eu acho que o Ver. Adroaldo
colocou uma questão importante que é a questão de que as fundações podem vender
serviços; que ela tem um caráter privado e ela pode vender serviços. Isto,
inclusive, a Constituição, hoje, garante a toda a população residente no Brasil
o atendimento universal e gratuito no serviço de saúde. Então, para nós,
enquanto Administração Popular, o objetivo de saúde não é obter lucro em cima
das condições de saúde da população, mas sim prestar um serviço à população que
ela tem direito e lutar por recursos orçamentários, tanto do Orçamento da
União, dos Estados, do Município, como do Orçamento da seguridade social.
Por isto voltamos a reforçar a importância da discussão da Constituição
Estadual, da Lei Orgânica do Município e também da Legislação Complementar da
Constituição, para realmente tornar lei e não mais uma série de portarias do
Ministério da Previdência, o repasse dos recursos da Previdência Social, da
seguridade social para os Municípios e para os Estados para poderem prestar
serviço de saúde.
Em relação à contratação de funcionários e a posição da Direção do HPS
e a posição de Direção da Associação dos Servidores e do Centro de Estudos,
acho que é importante eles colocarem como vêem a questão da fundação e a
questão de recursos humanos.
O SR. ADROALDO CORRÊA: Quanto aos dois regimes, a
questão da CLT e contratação livre de concurso, em relação ao ponto de vista
dos funcionários e do Diretor do próprio HPS.
O SR. PRESIDENTE: Então continuamos com o
Diretor do HPS, para esgotar pelo lado do HPS.
O SR. ADROALDO CORRÊA: Depois a relação entre a
Cardiologia, um hospital de referência, mas de especialidade e o HPS, um
hospital, não se poderia dizer geral, mas de emergência e urgência.
O SR. HAMILTON PETRY DE
SOUZA: Eu
cumprimento a Câmara e, em especial, o Ver. Vicente Dutra pela iniciativa. Eu
acho que concordando ou discordando é o que menos importa. O importante é que
signifique uma preocupação pela melhoria das condições de atendimento do
Hospital de Pronto Socorro. Isso é um assunto que volta à tona, está aqui
presente nosso colega e amigo Dr. Ubirajara Mota, e lembro-me que na gestão do
Dr. Ubirajara este assunto foi amplamente debatido. No momento, não tenho
condições de dizer o que foi que não permitiu a evolução, para o Pronto
Socorro, de uma fundação. Lembro-me que houve alguns entraves a nível dos
profissionais que trabalhavam lá, relativos à estabilidade. Talvez o Dr. Mota
possa nos auxiliar, esclarecendo porque, naquela ocasião, a coisa não evoluiu
nesse sentido.
Especificamente ao que já foi colocado, creio que a Maria Luiza já
explanou de maneira bem clara o grande nó do problema e que consiste no
repasse, a partir dos órgãos públicos que são os que financiam a saúde no País,
de verbas proporcionais aos setores necessitados. Então, o que vemos é uma
administração como a do Instituto de Cardiologia, e indiscutíveis são os
méritos desta administração, mas que, na realidade, os números que nos são
citados tratam, basicamente, de receitas operacionais decorrentes de
atendimentos a duas grandes entidades prestadoras, ou seja, o Instituto
Nacional de Assistência Médica e Previdência Social e o Instituto de
Previdência do Estado, numa proporção de 77%, no momento. Em contrapartida,
digo que o Hospital de Pronto Socorro dispõe, atualmente, no primeiro trimestre
de 1989, numa proporção via verbas do Estado de 9.26%, mostrando que existe,
não se sabe qual a razão, uma defasagem muito grande entre esses dois dados.
Além disso, um outro aspecto que também foi colocado, no sentido de que
a fundação permitiria um fluxo maior de doações para o Hospital de Pronto
Socorro, eu diria que é possível mas que, na realidade, a estrutura atual não
contrapõe essa possibilidade, tanto é que, o Hospital de Pronto Socorro, na
década de 40 ou 50, recebeu um aparelho de Raio X, sofisticado para a época,
senão me engano de uma campanha feita pela Empresa Caldas Jr., clubes de
serviços, como por exemplo o Lions, há alguns anos, fizeram uma ampla
mobilização e nos doaram seis ou sete ambulâncias. Existem uma série de outros
exemplos que permitem o afluxo de recursos ao Hospital de Pronto Socorro,
embora mantida a situação jurídica atual. Acho que é muito importante ouvir a
parte do centro de estudos da Associação dos Servidores, porque existem
questões de natureza trabalhista que certamente vão suscitar muitas discussões.
Acho que teria isso, no momento, para colocar.
(Não revisto pelo orador.)
O SR. PRESIDENTE: Vamos colocar a palavra à
disposição do Dr. Roberto Barros que foi a pessoa indicada.
O SR. ROBERTO BARROS: Em relação à pergunta que
foi formulada pelo Ver. Adroaldo, lógico que um hospital de pronto socorro tem
uma situação distinta de um hospital especializado como a Cardiologia. Eu lhe
diria, apenas, em relação à Cardiologia, se marca uma consulta cardiológica no
Instituto de Cardiologia, mais rapidamente do que se marca em qualquer outro
hospital de Porto Alegre. Evidentemente nós temos as nossas limitações em
relação à internação porque dispomos de uma capacidade implantada de leitos que
é relativamente pequena, 120 leitos, e, que vai ficar duplicada, provavelmente
nos próximos 365 dias.
(Não revisto pelo orador.)
O SR. PRESIDENTE: Satisfeito, Vereador?
O SR. ADROALDO CORRÊA: É que ficou a parte relativa
aos dois regimes de contratação que eu tinha pedido a intervenção dos
representantes do Centro de Estudos e da Associação de Funcionários, se fosse
possível.
O SR. PRESIDENTE: Está. O Centro de Estudos,
estou deixando para mais alguns minutinhos para tentar enxugar mais algumas
perguntas.
Centro de Estudos, é o companheiro?
O SR. CLAÚDIO DE OLIVEIRA: Com relação ao regime de
funcionários, em sendo uma fundação, a abertura de contratações em regime de
CLT, realmente a preocupação que as pessoas demonstram de que com isso se
abriria a possibilidade de surgir um clientelismo, com contratação de pessoal
não-qualificado e com dispensa de pessoas até por problemas pessoais ou políticos,
eventuais, acho que esse é um problema que só pagando para ver, porque em se
tendo uma administração decente à frente da instituição, eu tenho a impressão
que estes problemas não devam existir. Até perguntaria ao representante do
Instituto de Cardiologia se eles lá enfrentam esse tipo de problema.
(Não revisto pelo orador.)
O SR. VICENTE DUTRA: Sr. Presidente, só uma
questão que acho muito relevante neste momento do debate, porque a dúvida é o
que fazer com relação aos dois regimes CLT e o pessoal efetivo. Isso é uma
forma muito simples de ser resolvida. O instituidor estabelece no Registro de
Cartório a sua vontade. Então, a admissão de funcionários se fará por concurso
público. Se bem que tenho minhas dúvidas.
O SR. PRESIDENTE: Ver. Vicente Dutra, nós
temos o Presidente da FEPLAM que tem uma posição contrária. Então, gostaria que
os companheiros da Mesa que estão abalizados no assunto, respeitando V. Exª,
então vamos ver se conseguimos enxugar por aqui, depois volto a V. Exª que está
inscrito, assim como o Ver. Dilamar Machado.
O SR. DILAMAR MACHADO
(Questão de Ordem): É indiscutível a excelência dos pronunciamentos feitos,
esclarecimentos, vantagens e desvantagens de uma fundação, porque do ponto de
vista das informações, é indiscutível que é vantajosa a fundação. Se discute se
para o HPS é vantagem ou não. A posição da Secretaria é clara, é contrária,
também do Diretor do HPS. Me parece que os demais integrantes do Centro de
Estudo do HPS eles não se colocam claramente favoráveis: os contatos que fiz
com os servidores do HPS, eles não são favoráveis. Indiscutivelmente, a
iniciativa do Ver. Vicente Dutra é ótima, nos esclarece, é bom discutir,
debater, pois o Brasil precisa muito de debate, de discussão. Mas, também é
indiscutível que é um assunto, claramente, a cargo da nossa Comissão de Saúde
da Câmara Municipal. Ia sugerir, Sr. Presidente, que após os debates de hoje, a
ata desta reunião fosse encaminhada à COSMAM, para que continuasse o exame
dessa matéria, desse parecer à Casa, e depois fosse para uma decisão do
Executivo Municipal.
O SR. PRESIDENTE: Está registrada a Questão de
Ordem de V. Exª, até por que a Mesa dos trabalhos e a Presidência dos Trabalhos
têm o mesmo pensamento, ela ao final da reunião ia sugerir ao Plenário que se
continuasse com esta reunião que é muito importante, com a Comissão de Saúde,
continuarmos enxugando até chegarmos a uma decisão.
O SR. ANTÔNIO CARLOS MELO: Sr. Presidente, só para
acalmar uma dúvida, estamos hoje enfocando um assunto que está hoje
suficientemente regulamentado pela Constituição, que é a questão do regime
jurídico deste pessoal de uma fundação, que vai ser uma Fundação do Poder
Público Municipal. É muito simples. Diz, aqui, o art. 39 da Constituição.
(Lê.): “A União, o Distrito Federal, os Estados, e os Municípios instituirão no
âmbito de sua competência, regime jurídico único e planos de carreira para os
servidores da Administração Direta, Autarquias, e das Fundações Públicas - e
aqui há uma impropriedade de termos que não é Fundações Públicas, são Fundações
administradas pelo Poder Público - há um erro técnico-jurídico, mas a questão
está plenamente elucidada e não há possibilidade de se fazer contratações. Cada
fundação vai ter que fazer seu plano, técnico, de funcionário. Não tem como
escapar disso.
(Não revisto pelo orador.)
O SR. PRESIDENTE: Com a palavra, o Ver. Aranha
Filho.
O SR. ARANHA FILHO: Sr. Presidente, inicialmente
eu gostaria de cumprimentar o Ver. Vicente Dutra, que nos enseja, mais uma vez,
discutir e comentar os problemas aflitivos do Hospital Pronto Socorro.
Inicialmente eu diria que na Legislatura passada, nós aqui nesta Casa,
travamos diversos diálogos a respeito. E, inclusive votamos e aprovamos o Fundo
Municipal da Saúde, possibilitando esse problema tão crucial levantado pelo
Ver. Vicente Dutra, referente a dotações orçamentárias ou um aumento de caixa
para o HPS, haja vista que qualquer tipo de doação ia para a vala comum da
Prefeitura. E o repasse custava a chegar ao seu destino, a não ser aquelas
doações feitas em coisas específicas ao HPS, que não teria como ir para a vala
comum da Prefeitura Municipal.
Lembro bem, que inclusive uma Emenda do Ver. Paulo Sant’Ana, dizia que
o que fosse auferido pelo Fundo a título de doações de repasse de verba, 70%
seria para o HPS, 30 para o sistema de saúde do Município.
Então, eu vejo que a criação da Fundação, ou ampliar a atividade do
Fundo são coisas que mexem com o HPS para melhor. Hoje, reassumindo esta Casa,
eu lavro um Pedido de Informações, exatamente na tentativa de saber como anda o
Fundo Municipal da Saúde. E isso possibilita fazer uma pergunta à Secretária
Maria Luiza Jaeger, no sentido de que gostaria de saber quais as receitas que
tem o Fundo Municipal da Saúde, o percentual em doação, e se já foi feita
alguma promoção para essas doações e qual o resultado. Digo isso, porque
entendo que está exatamente aí o meio para que se possam conseguir maiores
verbas para o HPS, para melhor atender essa Instituição que é o orgulho do
nosso Rio Grande.
A SRA. MARIA LUIZA JAEGER: A informação é a seguinte: o
Fundo é uma Lei de 1985 e as únicas doações que entraram ao Fundo são doações
de Oficiais da Brigada Militar em campanhas anteriores de ajuda do HPS. A
partir disso, o Fundo Municipal de Saúde está só baseado na dotação orçamentária
anual de 1% do Fundo de Participação dos Municípios. O que está havendo é que a
proposta orçamentária que foi apresentada à Câmara Municipal no ano passado não
colocou dentro do Fundo os recursos vindos do nível federal, o que dificulta a
utilização desses recursos numa forma mais ágil que o Fundo possibilitaria.
Então, o que está se tentando fazer neste momento é uma alteração da
Lei do Fundo que possibilite que todo e qualquer recurso que entre no Município
para a área de saúde, entre via Fundo, que é uma conta em separado, tanto
doação, quanto as questões dos convênios que a gente agora está tentando entre
9, 10 e 11 de maio ter uma audiência com o Ministro da Previdência no sentido
de obter mais recursos. E, amanhã, inclusive todos os Líderes da Bancada
receberam um convite feito pela Comissão Municipal de Saúde com uma audiência
com o Governador do Estado na tentativa de conseguir mais recursos, não só para
o HPS, mas para a rede de unidades. Não se pode esquecer que saúde não é só
emergência, saúde vai desde a rede ambulatorial até o atendimento de emergência
prestado pelo HPS.
Então, o grande problema é que, apesar de o Fundo ter sido criado em
1985, entra para ele só 1% da arrecadação do Fundo de Participação dos
Municípios. E o que a gente quer é uma reformulação, uma divulgação disto que
está sendo preparado pela Administração Popular, divulgação maior sobre a
questão da situação do Hospital de Pronto Socorro, abrindo a possibilidade de
doações e doações via Fundo, para conseguir mais recursos para funcionamento do
Hospital de Pronto Socorro e da rede prestadora de serviços de saúde.
O SR. ARANHA FILHO: Sr. Presidente, duas
constatações surgem. A primeira é que a Srª Secretária Bel. Maria Luiza Jaeger
entende que o Fundo é uma solução anterior à Fundação, que não deixa de ser uma
possibilidade de auferir mais verbas para o HPS. Mas, acreditando que o Fundo
possa responder em menor tempo, já que existe o Fundo, eu acredito que não se
deva medir esforços para que isto possa acontecer.
A segunda constatação é que depende, e isto já de há longo tempo
acompanhando as atividades do Pronto Socorro, muito antes do meu ingresso na
Câmara Municipal, eu diria que deve, cabe ao Chefe do Executivo a maior
importância em termos de prioridade para dotar verbas ao HPS. E se a
Administração Popular entende assim, eu acredito que o HPS pode receber mais
verbas, não só no orçamento, mas, principalmente, em liderar campanhas de
doação, porque o apelo do Pronto Socorro é muito forte. Eu diria, até, que é
mais forte do que a Santa Casa.
A SRA. MARIA LUIZA JAEGER: Eu só queria lembrar ao Ver.
Aranha Filho que, no dia do aniversário do Pronto Socorro, o Prefeito esteve lá
e colocou a importância da campanha, da situação do Hospital Pronto Socorro e
que, hoje, no primeiro trimestre, o Hospital de Pronto Socorro de Porto Alegre
foi sustentado 90% com recursos próprios da Prefeitura e 10% com recursos do
Ministério da Previdência, enquanto todo o funcionamento do resto dos hospitais
do País, basicamente, isso se dá ao contrário: 90% de recursos vêm do
Ministério da Previdência e 10% são recursos próprios. Então, está-se fazendo
todo o esforço, por parte da Prefeitura, mas cremos que estamos retirando
recursos que é da população de Porto Alegre, recursos que a Previdência Social
deveria estar repassando ao Hospital de Pronto Socorro.
O SR. ARANHA FILHO: Nós temos conhecimento
disso. Aliás, sempre foi assim, a Prefeitura sempre alcançou ao HPS a grande
maioria dos recursos. Acredito até que este percentual tenha sido bem maior por
parte da Prefeitura, já que o repasse, da área federal, custa a chegar e,
quando chega, quase que não atende às necessidades.
(Não revisto pelo orador.)
A SRA. SANDRA DENISE LOPES: Só gostaria de colocar a
posição dos funcionários. Eu também fui funcionária do Instituto de Cardiologia
e não vejo uma fundação como solução para os funcionários do Pronto Socorro. Eu
sentia muito a diferença, pois trabalhava no Pronto Socorro e no Cardiologia,
na mesma época. Acho que o profissional do HPS, até em termos de relacionamento
de todo o corpo de médicos com os funcionários, era bem melhor. Também em
termos de salário, o Pronto Socorro pagava melhor que o Cardiologia. Uma
fundação, talvez, em termos de recursos, seja uma solução, mas não o é em
termos de funcionários, não para os funcionários do HPS. Era isso que eu queria
colocar.
(Não revisto pela oradora.)
O SR. UBIRAJARA MOTTA: A primeira colocação que
pretendemos fazer é a seguinte: não se pode pegar o princípio bíblico de que de
um lado está o bem e do outro está o mal. Encarando sob o aspecto de quem
entrou no Pronto Socorro ainda em novembro de 1954, e que depois durante a
Administração do Prefeito Villela, exercia função de Diretor, vivi,
logicamente, todos esses problemas, com a liberação dos duodécimos, que a gente
sabe que o Secretário da Fazenda do Município e o Secretário do Planejamento
têm um poder muito acima do Secretário da Saúde, e todo mundo sabe disso, e
que, às vezes, isso gera dificuldades. E nós, por duas vezes, tivemos que pedir
a interferência direta do Prefeito para liberar as chapas de Raios X para o
feriadão do final de ano.
Isso existe. Nós podemos achar que não existe, que a Constituição
aboliu isso, mas existe. Eu ficaria até muito consolado se a Secretária não
dissesse, agora não existe mais. Então, quer dizer, existem aquelas condições
que favorecem, e aquelas que dificultam. Na ocasião, e não foi durante a
Administração Villela, não foi o único trabalho que existiu sobre fundação;
existiu na década de 50, depois na época do Diretor Ely, se não me engano, na
época do Prefeito Loureiro da Silva, o problema fundação foi estudado. O grande
argumento da Secretaria do Planejamento contra a fundação, e o trabalho está
pronto na Secretaria do Planejamento, sobre fundação, transformação do Hospital
de Pronto Socorro em fundação, era o problema do empreguismo, o medo do
empreguismo; segundo, o medo de o Município perder o poder que ele tem sobre o
hospital. Existem algumas coisas que devem ser trazidas, e vou fazê-lo
rapidamente: está, hoje, no Pronto Socorro, tive oportunidade de conversar com
o Prefeito deste Município, um Vereador da Grande Porto Alegre, vítima de
agressão, e aquele Prefeito dizia da vontade, e eu acredito que ele tenha
vontade, ele não tem é muito dinheiro, de colaborar, como um Município da
Grande Porto Alegre que usa o Pronto Socorro; temos hoje lá um paciente vindo
de Bagé, está lá na Enfermaria 8. Então, são problemas que vêm de avião até do
Amapá.
Agora, o importante que vemos nisso tudo é a iniciativa do Ver. Vicente
Dutra em trazer o problema para discussão, e a abertura da Secretária que, num
momento se posicionou contra, mas aceitou a discussão. Quero trazer aqui um
aspecto, acho que o problema fundação escapou do Pronto Socorro, pois no
momento em que temos 70 mil pessoas, na Restinga, sem hospital, o problema não
pode ficar assim. E que esta gente viaja 24 quilômetros para vir ao Pronto
Socorro e o médico dizer: não é nada, volte para casa. Esse é um problema muito
sério, que escapa àquela pequena área física do Hospital de Pronto Socorro. Mas
nós como País, como Município, como Estado não temos recursos para resolver o
problema de uma hora para outra. Nós temos que manter o Pronto Socorro
realmente como uma área de segurança para todos nós.
Mas existe um outro fator que interfere em todas as medidas, em todos
os recursos que são destinados ao Pronto Socorro, que é o crescimento da
violência. O Pronto Socorro hoje tem na sua maioria, dos seus pacientes, e está
aí o Dr. Hamilton, cirurgião, que viveu este problema, são as vítimas da
agressão e as vítimas das violências do trânsito são os grandes clientes do
Pronto Socorro.
Existe um aspecto que eu acho que não pode ser esquecido aqui que é a necessidade de a universidade e eu como Prof. da Faculdade de Medicina da Universidade Federal do Rio Grande do Sul, participante de uma comissão destinada a ter o ensino da Medicina de Urgência dentro do Hospital de Pronto Socorro, quer dizer que há uma necessidade que a fundação facilitaria isto, não é Doutor? Esta integração, não apenas com a UFRGS, mas com todas as Faculdades de Medicina de Porto Alegre. Facilitaria muito mais esta integração e que o Pronto Socorro também precisa trazer para dentro de si a universidade. Isso é uma necessidade e que no meu entendimento acho que a fundação facilitaria.
Eu acho que o problema do empreguismo, me parece, pode ser uma fantasia minha, ele está ficando um pouco para trás. Isto passa a ser um problema histórico e que eu pelo menos acho que não vai acontecer. Eu pelo menos não tenho esta preocupação. Na ocasião me manifestei favorável e eu acho que não vai resolver, como disse, todos os problemas, mas entendo e vejo com grande simpatia pelo menos a discussão em torno da fundação.
Os problemas do Pronto Socorro eles não podem ser resolvidos hoje porque aparecem outros amanhã. E acho que não há necessidade. E naquela ocasião foi muito debatido o problema da situação dos funcionários e no Pronto Socorro todo mundo debate este assunto, que é servidor do Pronto Socorro. Não houve este medo que se pudesse trazer alguns prejuízos ao servidor do Pronto Socorro. E de mais a mais, o pessoal que agüenta, que fica lá dentro, é um pessoal tão dedicado e o Pronto Socorro precisa. E no meu tempo eu tive uma expressão, o bom funcionário não precisa cumprimentar o diretor que lhe é muito grato. Acho que todo mundo está de acordo com isso. Muito obrigado.
(Não revisto pelo orador.)
O SR. PRESIDENTE: Srs. Vereadores, nós já ultrapassamos aí mais de 30 minutos das nossas comunicações. Nós vamos dar mais um prazo até às 16h15min, até por que nós temos já uma inscrição para o tempo de Liderança de um dos Vereadores da Casa. Nós temos quatro Vereadores inscritos. Ver. Vicente Dutra, Ver. José Valdir, Ver. João Motta e Ver. Luiz Machado que retira a sua inscrição. Então nós temos três Vereadores, o próximo é o Ver. Vicente Dutra.
A Mesa, atendendo à Questão de Ordem do Ver. Dilamar Machado, solicita ao Ver. Gert Schinke, que é o Presidente da Comissão de Saúde, que logo após o encerramento da Sessão que reunamos nossas autoridades que compõe a Mesa para nós darmos continuidade a esse debate junto à Comissão de Saúde.
Com a palavra, o Ver. Vicente Dutra.
O SR. VICENTE DUTRA: Bom, eu escutei atentamente as opiniões feitas pela Mesa, particularmente uma colocação feita pela Srª Secretária quando se referia à Fundação de Belo Horizonte, de Pronto Socorro, quero dizer a S. Exª que devem ter arquivado um amplo dossier que relata toda a história da formação dessa Fundação lá. E foi muito interessante porque em 1967 criou-se um grupo de trabalho para estudar como fazer uma estrutura adequada para servir de Pronto Socorro em Belo Horizonte. Levou dois anos o trabalho dessa Comissão e em 1969 eles chegaram à conclusão de que deveria ser criada uma fundação, e a partir dali essa Fundação tem pelo menos informações que eu tenho recebido de outras fontes que ela funciona e funciona muito bem. Nos últimos tempos, agora, mudou a administração, não sei a quantas anda a Fundação, mas com relação à estrutura de fundação eu quero dizer à Senhora Secretária o seguinte: que nós poderemos encontrar uma estrutura de fundação hospitalar, um mau funcionamento, podemos encontrar, e muito, por esse mundo afora.
Mas jamais - isso eu posso afirmar com toda a segurança -, jamais nós vamos poder argumentar que esse mau funcionamento se deve exclusivamente à estrutura de fundação, porque eu posso assim fazer um seguinte exemplo, tomo a liberdade de fazer esse exemplo, querendo a pessoa ir daqui ao Rio de Janeiro ou a Brasília, e têm dois aviões, qual é o avião que ela vai pegar? Vai pegar um avião de hélice? Ou vai pegar um avião a jato? Claro que 99% da população vai preferir o avião a jato. Por quê? Porque é mais seguro, é mais rápido, tem mais conforto. Outro avião vai chegar também, claro que vai chegar. Agora tem um detalhe, Srª Secretária, se a tripulação que deve pilotar este avião não estiver preparada para administrar a pilotagem deste avião, é claro que não vai nem levantar vôo. Isso não é da estrutura em si, a estrutura em si ela é ágil, ela permite uma série de evoluções administrativas que a outra estrutura não permite.
Com relação à parte do clientelismo, acho que o Dr. Melo matou a questão. Até nem sabia desse dispositivo constitucional. Mas mesmo que não houvesse essa determinação constitucional, a vontade do instituidor ela se faz para todo o sempre. As fundações, desde a época dos romanos, já funcionavam. Isto é, a vontade do instituidor é eterna. E se ele diz: eu quero que a administração da fundação se faça assim, como é o prêmio Nobel, por exemplo, toda a vida vai ser daquele jeito, porque o Ministério Público assegura isto aí. E aqui abre um componente psicológico muito interessante, porque as fundações estrangeiras, sabendo que há uma fiscalização do Ministério Público, elas carreiam recursos a Fundações; elas preferem carrear recursos a fundações do que ao próprio Poder Público que tem a má fama de mal-administrar os recursos, porque sabem que além da fiscalização normal que tem a fundação, o corpo funcional da fundação, a cúpula administrativa, ainda há por trás o Ministério Público que garante um funcionamento das atividades essenciais da fundação.
O SR. PRESIDENTE: Ver. Vicente Dutra, a pergunta, por favor.
O SR. VICENTE DUTRA: Aqui é um debate. Eu estou apenas fazendo algumas considerações com relação àquilo que foi colocado.
Eu apenas para finalizar, Sr. Presidente, acho que é da maior importância, gostaria de ler aqui um trechinho de um depoimento do Dr. Raya, que é Diretor do Hospital de Clínicas de São Paulo. Perguntado pela Revista Veja, páginas amarelas, de 31 de julho de 1985 - há bastante tempo atrás. “Em que o Senhor se baseia para estar tão certo de que o sistema Fundação resolve os grandes problemas dos hospitais universitários?” Aí o Dr. Raya responde: “Se atravessarmos a rua dentro do próprio complexo do Hospital de Clínicas, encontraremos o Instituto do Coração - INCOR - considerado o hospital prince do País, por quê? Porque o INCOR possui na sua retaguarda, há cerca de 6 anos, a Fundação Euríclides de Jesus Zerbini. Às verbas do Estado esta Fundação de apoio soma rendas provenientes de uma situação privilegiada. Ela tem o direito de cobrar os serviços médicos que presta e aplica estes recursos adicionais na suplementação de salários”.
Veja bem, Sr. Presidente, há uma grande confusão - a
fundação não inibe em nada a parte de salários do funcionário efetivo do
Município e que continua vinculado à Prefeitura. Mas pode haver acumulação,
claro que pode! A fundação é o único setor em que pode haver acumulação, há
jurisprudência ampla sobre isso, porque ela é de caráter privado. Então, a
pessoa pode receber o salário do serviço público, por estar cedida à fundação,
e pode haver uma complementação, sem falar nas bolsas de estudos e no
aprimoramento técnico do pessoal. Ainda diz, aqui, o Raya, quando perguntado
sobre salários: “O sucesso do sistema ficou comprovado pelo comportamento da
comunidade do INCOR, que quase por unanimidade decidiu não participar da última
greve realizada pelos funcionários das demais áreas do Hospital de Clínicas.
Mais ainda, depois da greve, os funcionários dos outros setores passaram a
reivindicar a equiparação de seus vencimentos aos recebidos pelo pessoal do
INCOR. Isso pode acontecer, sim, mas com a criação de uma fundação.” Ainda o atual
Ministro Suzuki, que era o Diretor do INCOR, diz, aqui: “A Fundação Zerbini
surgiu da necessidade de viabilizar mais rapidamente o Instituto do Coração
que, como Unidade de Complexo Hospital de Clínicas apresentava deficiências e
dificuldades inerentes a uma administração estatal. A agilização desse
processo...” E, assim vai. Diz, mais adiante: “Hoje, vejo a Fundação como uma
instituição sem fim lucrativo, de apoio a uma empresa governamental, cujos
objetivos são os mesmos do Instituto do Coração. Ela surgiu para buscar
recursos para o Instituto a partir do trabalho e produtividade do próprio
INCOR. Isso significa que no Instituto do Coração nós estamos valorizando cada
vez mais o trabalho reconhecendo que ao prestar um serviço de alto nível
teremos como resultado uma recompensa maior e melhor para todos.” Eu teria aqui
outros depoimentos ainda.
Só para finalizar, Presidente, eu requeiro também
que se dê continuidade a este assunto não apenas na Comissão de Saúde - que é o
lugar adequado - mas em conjunto com a Comissão de Justiça, porque o assunto
também é de ordem juíridica. Há um compoente jurídico aqui importante que tem
que ser esclarecido, de modo que eu peço que a Comissão depois estabeleça uma
forma de atuação conunta para continuarem os estudos, por sugestão do
Presidente, quem sabe pela manhã, para não interferir no horário da Sessão
Ordinária. Muito obrigado.
(Não revisto pelo orador.)
O SR.
PRESIDENTE: Com a palavra, o Ver. José Valdir.
O SR. JOSÉ
VALDIR: Sr. Presidente, Srs. Vereadores, eu me confesso quase leigo no
assunto, por isso mesmo, enquanto ouvia o debate, me surgiram três questões,
algumas acho que até já foram tocadas. A primeira é a seguinte: persistindo
esse quadro negro que se tem quanto ao repasse de recursos do Estado e, principalmente,
da esfera federal, a transformação do Hospital de Pronto Socorro em fundação
poderia preencher essa lacuna? Outra questão é se, no atual regime do HPS, são
insanáveis esses obstáculos de ordem administrativa, não seria possível se
desobstaculizar a área administrativa? A terceira questão prende-se ao fato de
que se o HPS for transformado em fundação, até que ponto as responsabilidades
pela remessa de verbas, por parte da União, principalmente, não seriam
debilitadas pelo fato de ser uma fundação, uma vez que agora já há dificuldades
nessa remessas.
(Não revisto pelo orador.)
O SR.
PRESIDENTE: A palavra com a Secretária Maria Luiza Jaeger.
A SRA. MARIA
LUIZA JAEGER: Em resposta à primeira, gostaria de colocar a questão da
universidade. O Hospital de Pronto Socorro, hoje e sempre, foi um campo de
estágio para as universidades na área de emergência, quase o único campo de
estágio para os Cursos de Medicina e Enfermagem, na área de emergência. Uma das
possibilidades que se vê é que o Ministério da Educação assuma como sua
responsabilidade e passe a ter um convênio como tem com a Santa Casa de
Misericórdia. É preciso que se diga que com o Bônus da Vida a Santa Casa
recolhe recursos na ordem de 3 a 4%, o restante vem todo do convênio
universitário que aquela entidade tem. Foi aprovado dentro da SMSSS um repasse
extraordinário de recursos, através de um projeto de integração denominado
“Leasing de Integração Universidade/Comunidade”, de mais três milhões de
dólares para a Irmandade da Santa Casa, para os vários hospitais que integram
aquela Irmandade, para reformulação e compra de aparelhos, de equipamentos.
Isso é um projeto com os hospitais universitários e no qual pretendemos incluir
o HPS.
Em relação às colocações do Ver. José Valdir, acho
que as questões administrativas elas são sanáveis via Administração Direta. A
posição que defendemos é de que a Administração Pública, a Administração
Indireta não pode continuar ter a pecha de algo que não funciona. Ela pode
funcionar e ela tem mostrado em vários países do mundo que ela é possível de
funcionar. Então tem que tornar essa máquina mais ágil. E hoje, a Direção do
HPS, ela é ordenadora de despesas. Ela ordena despesas, ela manda comprar. Só
que para isso é preciso ter recursos. Quando há o repasse da verba do recurso,
nós compramos em uma semana o que necessitamos. Agora, o problema é a questão
de não ter recursos. Sem recursos não adianta ser ordenadora de despesas, estar
descentralizada a questão de recursos, não precisa nem a assinatura de Prefeito,
nem assinatura de Secretário, mas é necessário haver o recurso. Então, a
questão básica continua para nós, que recursos devem e são obrigação da União e
do Estado de serem repassados ao Município de Porto Alegre, para o Município de
Porto Alegre atender à população, não só do Município, como também a população
da Região Metropolitana, como de outros Municípios do Estado e de outras
regiões do País.
Em relação à questão da responsabilidade do setor
federal, como fundação, ele não tem. Inclusive, numa das propostas dessa
questão da Legislação Complementar que está em discussão no Congresso Nacional,
que é uma proposta defendida pelo Ministério da Previdência, está colocado no
art. 14, deste anteprojeto de lei, que é vedado à adminsitração de recursos públicos
através de fundações ou outras entidades de direito privado.
Isto é um anteprojeto de Lei Orgânica do Sistema
Único de Saúde feito pelo Ministério da Previdência Social e pela Organização
Panamericana de Saúde. Isto criaria problema em relação a funcionamento, hoje,
de fundações.
Quanto à questão que o Ver. Vicente Dutra estava
colocando, acho que têm fundações que funcionam, como o INCOR. Agora, o INCOR,
basicamente funciona com recurso público e com recurso público que acaba dando
atendimento privilegiado para quem pode pagar mais. E a posição que se defende
é que todo e qualquer habitante do Território Nacional tenha um atendimento
igualitário e equânime e não porque pode pagar, mas sim porque todos nós
contribuímos com a Previdência Social. A gente, enquanto Secretaria, continua à
disposição para essa discussão com a Câmara, com a Comissão de Saúde, com todos
os Vereadores, considera essa discussão importante, agora, principalmente,
considera o seguinte: podemos discutir a Fundação, mas vamos antes de qualquer
coisa discutir mais recursos para a área de saúde e nos juntar nesta luta com o
Governo do Estado, com o Governo Federal, no sentido de repassar mais recursos
para a rede pública de Porto Alegre.
(Não revisto pela oradora.)
O SR.
PRESIDENTE: O Ver. João Motta desistiu, então só nos resta agradecer à
presença da Drª Maria Luiza Jaeger, do Dr. Hamilton Petry de Souza, do Dr.
Paulo Barbosa Soares, do Dr. Claúdio de Oliveira, Vice-Presidente do Centro de
Estudos do HPS, do Dr. Luiz Henrique Motta, do Dr. Antônio Carlos Melo,
Presidente da FEPLAM, da Srª Erminda Miragem, do Dr. Roberto Barros Benevett,
Diretor Administrativo da Fundação Universitária de Cardiologia, do Dr.
Ubirajara Motta, que enriqueceu esse debate e também da Srª Sandra Denise Lopes.
Nós encerramos o período de Comunicações.
Agradecemos à presença dos Senhores e, de imediato, solicitamos ao Ver. Lauro
Hagemann que é nosso Secretário para acompanhar os nossos visitantes.
Continuamos com os trabalhos. Liderança com o PMDB,
Ver. Luiz Machado.
O SR. LUIZ
MACHADO: Sr. Presidente, Srs. Vereadores, assumo a tribuna mais uma vez
para falar sobre um assunto que já tinha reportado há mais ou menos 15 dias
atrás, onde falava sobre o Governo da Frente Popular numa medida drástica em
que retirava os comerciantes da Praia de Ipanema, Bairro Guarujá e também Pedra
Redonda, ou seja, são os trabalhadores antigos e que produziram para a nossa
Cidade e que estão hoje à mercê da própria sorte. Quero colocar alguma coisa
aqui, vou divergir do Governo da Frente Popular, onde o Secretário analisa da
seguinte forma: “O titular da SMIC afirma que qualquer documento é ilegal já
que os terrenos são de área da Marinha e, em última instância, pertencem ao
povo de Porto Alegre. Vamos discutir apenas os critérios de desocupação, mas a
decisão é irreversível.”, garantiu Vasconcelos. Ele assegurou que em três meses
a área vai estar totalmente desocupada.
Quero dizer que isto trouxe, para aquela comunidade,
e aqui tem algumas pessoas presentes, um desalento, um sentimento porque são
moradores que ali sustentam seus familiares há mais de vinte anos.
Agora, vou fazer uma pergunta: como ficam estes
bairros, como Pedra Redonda, Ipanema e Guarujá com seus burgueses morando à
beira da praia, Ver. José Valdir, com os burgueses morando à beira da praia e
avançando até mesmo o espaço físico da praia?
Quero dizer com isso que não podemos mais tolerar,
porque eles atacaram os mais fracos e deixaram de atacar os mais fortes, os
poderosos. Pois quero ver a guerra da Frente Popular, como ela guerreou com os
empresários do transporte coletivo, que são do dinheiro, que vá guerrear contra
os que são os burgueses que colocaram seus muros até mesmo avançado pela beira
da praia, tirando a passagem de um local para outro.
É essa a minha colocação, que o Governo possa fazer
uma justiça para os que produziram, pois os comerciantes lá estabelecidos
produziram para a nossa Cidade, tanto Ipanema quanto Guarujá.
Trago esta manifestação de repúdio à Administração
Popular, pois esperava que começassem pelos poderosos, pois a Frente Popular
foi sempre unânime em dizer: “Não olhamos a quem quando queremos cumprir a lei,
vamos atacar sempre quem a infringir”. Essa foi a colocação do Sr. Prefeito:
quando todos infringirem, seja do maior ao pequeno, nós vamos cumprir a Lei.
Pois agora eu quero que seja cumprida a Lei para aquelas mansões que invadiram
a Praia de Ipanema e Guarujá, onde temos que fazer uma volta para chegar à
praia. Eu quero ver comprar essa briga com os poderosos. E aqui estão famílias
pobres que vivem do comércio da beira da praia. Estamos praticamente na entrada
do inverno e temos famílias que nem têm condições de morar, estão a perguntar
onde vão morar e onde vão trabalhar. É uma explicação para o Governo da Frente
Popular, que é um governo do povo, que acredito que vai resolver o problema
deles, porque é uma decisão arbitrária que eu concordo.
Quero que, se essa medida venha a acontecer
arbitrariamente, que então sejam atacados os poderosos que lá estão há muitos
anos, com piscinas e com mansões de até 1.000m². Sou grato.
(Não revisto pelo orador.)
O SR.
PRESIDENTE: Com a palavra, o Ver. Omar Ferri, do PSB.
O SR. OMAR
FERRI: Sr. Presidente, Srs. Vereadores, hoje eu venho a esta tribuna para
falar em nome do meu Partido. Falar como homem de um Partido, falar como um
Vereador pertencente à Bancada do Partido Socialista Brasileiro para me
manifestar pela primeira vez nesta Casa no sentido eminentemente
político-partidário. E sempre tender ou querer, sem ser esta a minha intenção de
criar seqüelas ou entrar em linha de colisão com o PT e com a Administração do
PT na Prefeitura de Porto Alegre, eu sou obrigado, não só por uma questão
partidária, mas também pelo afeto cordial e pessoal que me liga ao Dr. Bruno
Mendonça Costa, até poucos dias um dos Diretores da FESC.
Conheço o Dr. Bruno Mendonça Costa desde os idos da
década de 50. Em 1964, quando houve o Golpe Militar eu era Vice-Presidente da
ala moça do Partido Trabalhista Brasileiro e o Dr. Bruno Mendonça Costa era
Secretário-Geral da mesma. Acompanhei a vida dele, desde aquela época até hoje
e, com relação a sua pessoa, só tenho palavras de elogio. Acho que era um dos
melhores administradores que a Frente Popular tinha. Acho que era competente,
decente e honesto e que estava na FESC, exatamente, para cumprir com os
objetivos que a própria FESC se propunha. Exalto a grandeza do Dr. Bruno
Mendonça Costa que, embora demissionário e, embora, tenha se afastado nenhuma
palavra de descortesia e nenhum sinal de ruptura e nada saiu da boda do Dr.
Bruno que pudesse deixar um senão com relação à Administração que até aquele
momento ele serviu. Mas acho que tenho que assinalar que alguns funcionários da
FESC, na minha opinião procuraram tumultuar a administração do Dr. Bruno e
cercear a liberdade dele na administração da FESC. Eu tenho certeza absoluta,
pelas informações colhidas, que as manifestações de solidariedade que o Dr.
Bruno recebeu dos funcionários da SEC foi algo muito eloqüente. Acho que neste
momento de dificuldade administrativa, pelo qual atravessa a Administração da
Frente Popular ela não poderia ter se isolado, como se isolou e nem poderia ter
prescindido da prestimosa colaboração do Partido Socialista Brasileiro.
A minha manifestação não tem nenhum sentido de
levantar quaisquer aspectos de discórdia. Nada disso. Apenas assinalar com
muito sentimento o que aconteceu com a FESC e alertar o PT para que isso não
ocorra mais, porque se estes episódios se somarem, evidentemente, o PT ficará
isolado na Administração de Porto Alegre e isso eu mesmo que falo; na condição
de membro do PSB; não gostaria que ocorresse. De qualquer forma, o meu aplauso
e a minha solidariedade ao Dr. Bruno Mendonça Costa. Muito obrigado.
(Revisto pelo orador.)
O SR.
PRESIDENTE: Com a palavra, o Ver. João Dib, em tempo de Liderança, pelo
PDS.
O SR. JOÃO
DIB: Sr. Presidente e Srs. Vereadores, antes de mais nada, contrariamente à
posição do nobre Ver. Luiz Machado, eu quero colocar a minha solidariedade ao
Secretário Municipal de Indústria e Comércio pela sua iniciativa de dar um
basta aquele comércio ilegal, mal situado, no Ipanema. Ele, se realizar a sua
meta, terá feito uma coisa que eu tentei mas não consegui, porque recebi
incompreensões. Espero que ele tenha a compreensão e a solidariedade de todos
aqueles que gostam desta Cidade. Não é um bom serviço, não é um atendimento que
alegre a população de Ipanema.
Mas, Sr. Presidente e Srs. Vereadores, se me
perguntassem qual o melhor ano da década de 80 para ser Prefeito de Porto
Alegre, eu diria 1986. Sem dúvida nenhuma, sem nenhum erro, sem nenhuma
preocupação, porque deixava a Prefeitura ao Prefeito Alceu Collares em
excelentes condições. Perfeitamente estruturada, perfeitamente organizada, com
dinheiro em Caixa, e aqui está o documento para dizer que no dia 2 de janeiro
tinha 16 bilhões de cruzeiros, diferente do que encontrou a Prefeitura o atual
Prefeito Olívio Dutra. E a Administração Popular faz um relato do que encontrou
e eu vejo com tristeza que o ex-Prefeito Alceu Collares defende-se dizendo que
achou a Prefeitura também com falta de recursos. Não é verdade. Está aqui
documentado. Fiquei três anos dizendo, mas agora tenho documentado.
(Aparte paralelo.)
O SR. JOÃO
DIB: Não é verdade que eu esteja sendo passional, neste momento. Eu estou
sendo racional, estou mostrando um documento. E vou fazer uma análise, a partir
dos relatórios da administração. Vou mostrar que, em 1985, nós tapamos 446 mil
metros quadrados de buracos nesta Cidade e que, em 1986, com todos os recursos
deixados, apenas 191 mil metros. Vou mostrar que, das nove escolas ditas como
realizadas no ano de 1986, sete, exatamente sete, foram feitas em 1985, na
Administração João Dib. Estão no relatório do Sr. Prefeito Alceu Collares. E,
para que não tenham dúvidas, um dia, inaugurava-se um pavilhão na Escola
Estadual Venezuela e eu fui convidado, pois havia feito o pavilhão na minha
administração. Chovia e era sábado. Eu cheguei um pouquinho atrasado, o
Prefeito Collares já estava discursando e dizendo que estava inaugurando. De
repente, eu chegava, e ele disse: “Mas eu quero dizer que esta escola eu apenas
estou inaugurando, foi feita na administração João Dib, que, por sinal, esta
chegando aí neste momento.” Mas, no Relatório de realizações da Administração
Collares, de 1986, consta o pavilhão de alvenaria da Escola Estadual de 1º Grau
Venezuela.
Que ele se defenda, é um direito dele, mas vai ser
difícil se defender de todas as acusações que aqui estão formuladas, dizendo
apenas que eu o deixei também com dívidas. Não é verdade, não deixei dívidas,
deixei as mesmas dívidas que a Prefeitura já tinha e que rolavam, que eram
pagas e que foram sendo pagas durante os 999 dias em que fui Prefeito.
Eu deixei a Prefeitura em excelentes condições, não
raspei os cofres da Prefeitura, como informa o documento que eu mostrei aqui,
que dois bilhões de cruzados, nos últimos dias da administração, foram objeto
de acordo feito com o Governador Pedro Simon, acordo homologado em juízo no dia
28 de dezembro, mas que dizia que, nos dias 19, 23 e 26 de dezembro, deveriam
ser pagos os dois bilhões. Eu também mostrei aqui cópia deste documento.
Portanto, não deixei a Prefeitura com os cofres raspados: no dia 2 de janeiro,
repito, tinha 16 bilhões de cruzeiros, para pagar eventuais dívidas, porque no
dia 31 de dezembro os bancos não estavam abertos. Mas também nos primeiros
dias, na primeira semana, mais 9 bilhões e meio de excesso de arrecadação de
ICM, correspondente a dezembro, deram ingresso na Prefeitura. Portanto, o
ex-Prefeito, Alceu de Deus Collares, que se socorra junto a Deus e fale a
verdade, e não diga que encontrou uma Prefeitura endividada, porque não é a
verdade.
Mas eu volto a fazer uma análise mais criteriosa da
Administração João Dib entregue ao Prefito Alceu Collares. Muito obrigado.
(Não revisto pelo orador.)
O SR. PRESIDENTE (Adroaldo
Corrêa): Liderança
pelo PDT, Ver. Vieira da Cunha.
O SR. VIEIRA DA CUNHA: Sr. Presidente e Srs.
Vereadores, a exemplo do Ver. João Dib, nós também vamos nos reservar o direito
de trazermos a esta tribuna uma análise mais aprofundada da administração de S.
Exª, quando Prefeito de Porto Alegre. Mas há um fato, Ver. João Dib, que é
inegável, e me recordo porque assumia como Vereador nesta Casa e acompanhei.
Quando o Prefeito Collares assumia o Governo, havia, de fato, um
bloqueio das quotas do ICM para a Prefeitura de Porto Alegre, motivado pelo
Banco Ioschpe, e ao que me consta, quem havia tomado esses recursos do Banco
Ioschpe, e se havia bloqueio, e havia quando o Prefeito Collares assumiu, é
porque o pagamento não havia sido realizado; a quota do ICM estava bloqueada, e
tanto é verdade, que o Ver. Dib vem dizer que havia recursos, mas nós vamos ver
se havia mesmo, porque me recordo que teve que ser feito um empréstimo, se não
me engano junto ao Banco do Estado de Minas Gerais, para poder pagar esse
empréstimo, e assim liberar as cotas de ICM. Mas, a exemplo de V. Exª, nós
também vamos ter o cuidado de fazer um exame mais aprofundado da questão.
Mas chamo a atenção de V. Exª, de que essa declaração do Prefeito Collares
surgiu porque a Administração Popular não se cansa de querer justificar o seu
fracasso, a sua incompetência, e o seu desgoverno, com atos, com projetos e com
realizações da nossa Administração do PDT em Porto Alegre. Eu pensei que este
fosse durar 30, 60, digo, nos 100 dias da Administração, quem sabe, o Prefeito
Olívio vai lá, vai fazer um rosário de reclamações e vai passar, afinal de
contas, a administrar Porto Alegre. Mas isso não acontece. E a cada dia vem
mais um porta-voz da Administração Popular querer justificar o seu fracasso,
como diz aqui o Prefeito Collares. Collares afirma que vai aguardar o relatório
para responder detalhadamente o que classifica como afirmações genéricas que
estão servindo de pretexto para o fracasso da atual administração.
Mas eu não gostaria de que o meu tempo escoasse sem ter oportunidade de
manifestar, a exemplo do Ver. Omar Ferri, sobre o caso da FESC, até por que
acho que nós, Vereadores, a Câmara, o Poder Legislativo, ele tem que acompanhar
de perto, apesar de ser atribuição obviamente do Sr. Prefeito, nomear, demitir,
aceitar pedido de demissão. Nós temos por obrigação que acompanhar de perto
estes episódios, Dr. Omar Ferri. E acho que V. Exª, talvez por compromissos,
acordos ideológicos, ou político-partidários, com a Administração Popular não
quis assim referir.
Mas eu tenho aqui em minhas mãos, uma cópia de uma carta datada de 25
de abril de 1989 assinada pelo Sr. Bruno Mendonça Costa, uma carta aos
funcionários da FESC, em que o Sr. Bruno Mendonça Costa explicita as razões que
o levaram a solicitar a demissão do seu cargo na FESC. E no meu ponto de vista
esta carta contém afirmações muito duras e como disse aqui da tribuna o Ver.
Omar Ferri, se trata de uma pessoa confiável, sob cujas palavras nós, da
Bancada do PDT não temos nenhuma dúvida da veracidade do que o Sr. Bruno Costa
coloca nesta carta aos funcionários da FESC. Diz ele: “Defendo alguns
princípios que são sagrados para mim. Faz parte da minha própria ideologia o
bom relacionamento humano, o respeito recíproco, as atitudes sérias e
responsáveis. Acredito muito mais na argumentação e na persuasão do que na
força bruta. Não defendo a imposição de idéias pela intimidação explícita ou
velada. Deploro o autoritarismo sob qualquer forma ou disfarçado sobre qualquer
bandeira. Não se casa com minha maneira de ser ou agir a manipulação de
pessoas, a humilhação e o desrespeito ainda que em nome de ideais mais
elevados.” Diz ainda o ex-Diretor da FESC, é curto o trecho, Sr. Presidente, eu
pediria para terminar: “Todo o cidadão deve ser livre para pensar, expor e
defender suas idéias e seus ideais. Mesmo que não sejam nem sequer semelhantes
aos meus, aliás justamente por causa disso é que padeci alguns sofrimentos que
fizeram uma marca profunda na minha maneira de pensar e de agir, destes
princípios não me afastarei, ainda que, aparentemente, seja prejudicado. Não
vou discorrer dos motivos pelos quais estou me afastando, é do conhecimento de
todos vocês. Não vale a pena falar sobre eles porque são pequenos e mesquinhos.”
E finaliza um outro trecho da sua carta aos funcionários da FESC, dizendo o
seguinte: “A luta vale a pena se tiver um conteúdo ético, afastado dos
interesses menores e mesquinhos”.
Está aqui então, Sr. Presidente, finalizo, está aqui o Sr. Bruno Mendonça
Costa, o único representante do PSB no Governo da Frente Popular, sendo
explícito e mais claro não poderia ser dos motivos que o levaram a se afastar
deste autodenominado Governo da Frente Popular. Sou grato, Sr. Presidente.
O SR. PRESIDENTE: Para o espaço de Liderança,
inscrito pelo PT, Ver. Flávio Koutzii, Líder.
O SR. FLÁVIO KOUTZII: Sr. Presidente e Srs.
Vereadores, vou aproveitar o tempo de Liderança, para fazer alguns registros,
antes que o tempo se encarregue de desatualizá-los. O primeiro, já há uma Moção
encaminhada à Casa é o protesto e mais do que isto uma preocupação com o ato
dessa madrugada, na qual o monumento aos três mortos de Volta Redonda, sob a
ação de um comando da ultra direita foi explodido, e reivindicado expressamente
por um grupo que deve ser uma versão urbana da UDR. Não é a UDR, é eu que estou
dizendo que é um grupo que nasce para uma atividade urbana de ultra direita, a
associação corre por minha conta.
O segundo aspecto que eu gostaria de destacar, é que me impressionou
vivamente nos nossos debates aqui, é a forma como todas as Bancadas e todos os
Vereadores ouviram ou não ouviram ou fizeram que não ouviram o dado que já saiu
nos jornais e que foi retomado desta tribuna pelo Ver. Isaac Ainhorn que não se
encontra no Plenário - aliás, ele tem estado bastante ausente, ultimamente -,
quando ele referindo aquele famoso tema dos 150 mil cruzados que a Prefeitura
usou para a questão da encampação e financiar alguma das atividades necessárias
neste processo, partiu de uma nota na qual se lia que a Prefeitura já tomou
emprestado 12 milhões de cruzados novos até aqui. Já havíamos falado em janeiro
que o pagamento da folha se fez desta maneira e semana passada já o Secretário
da Fazenda e as notas todas da imprensa especializada registravam um aumento
mais de 5 milhões.
O que me chamou a atenção, para uma Câmara que debateu com tanta
intensidade, com tanto convencimento e paixão as questões das finanças e os
recursos financeiros do Município, é passar em branco e pelo lado a necessidade
deste empréstimo. Ele foi feito, senão não haveria dinheiro para pagar em dia
como foi pago, a folha do mês passado. Quer dizer que nos nossos debates ou a
Prefeitura desenvolve uma estranha compulsão masoquista, ela pede emprestado
para pagar juros depois, ou ela está confirmando nesta administração elementar
desses recursos que realmente o que nós temos dito aqui é absolutamente
verdadeiro. Acho que é um dado muito importante porque ele vai servir de
referência para os debates que nós faremos a seguir sobre todas as questões
concernentes ao tema salarial; quer dizer, se comprovou no mês passado, e eu
vou dizer muitas vezes isto aqui, que do jeito que está nós estamos no limite e
praticamente para fechar a folha é preciso pedir dinheiro emprestado. A
responsabilidade para com o Município é de todos os Partidos e de todos os
Vereadores que apreciem esta dramática realidade.
Terceiro elemento, que eu não queria deixar de registrar, é o
acontecimento de sexta-feira, à tarde, na qual uma parte importante dos
funcionários da CARRIS, não havendo recebido o seu salário por razões óbvias -
parece que no Estado isso teve uma amplitude muito maior - que foi a greve dos
bancos, que impediu que o dinheiro estivesse disponível. No Estado parece que
foi um fenômeno geral que atrasou até o dia de hoje o pagamento, e no
Município, isso implicou que o BIC, que tem uma sede dentro da própria CARRIS,
não tivesse recursos naquele momento. Que os funcionários protestem contra isso
nos parece absolutamente natural; que de uma forma fulminante isso se
transforme numa manifestação muito dura e violenta contra a administração da
CARRIS, que, rapidamente, se transforme em vivas ao ex-Secretário Castan e
entusiasmados brados ao candidato Brizola, me parece permitir deduzir que de um
fato infelizmente acontecido e saneado na mesma manhã de sábado, há um claro
indício, no meu entendimento. Nós, que absolutamente nunca trabalhamos com esse
tipo de categoria, de que a violência dessa reação e a impossibilidade de
expressar, pública e democraticamente uma explicação da Direção e do
Presidente, que não foi escutado, revela que pelo menos um grupo muito
importante de funcionários está mobilizado numa posição que eu entendo de
extrema agressividade e antagonismo com a própria empresa que trabalha.
Aos senhores, para tirarem as conclusões. Muito obrigado.
O SR. PRESIDENTE: Nada mais havendo a tratar,
declaro encerrados os trabalhos.
(Levanta-se a Sessão às 16h39min.)
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